segunda-feira, 9 de setembro de 2019

O divórcio entre bolsonaristas e lavajatistas

O bolsonarismo está se restringindo cada vez mais rápido aos fanáticos, lunáticos, inaptos e ineptos. Quem votou em Jair Bolsonaro com alguma esperança sincera de mudança ou por falta de opção já identificou a armadilha.

Ética, liberalismo, postura republicana, a defesa do estado democrático de direito e mesmo o cumprimento das próprias promessas de campanha passam longe deste governo!

Percebendo que o eleitor minimamente consciente começa a manifestar o seu descontentamento com o estelionato eleitoral, o bolsonarismo radicaliza ainda mais. Os ataques desmedidos a antigos apoiadores já é sinal do desespero crescente. O divórcio entre bolsonaristas e lavajatistas também é questão de tempo. A relação de confiança e o apoiamento mútuo já se esgarçaram.

Os últimos golpes desferidos por Bolsonaro no funcionamento da Lava Jato, na autonomia da Polícia Federal e na isenção da Procuradoria Geral da República foram fatais para atingir a credibilidade do cidadão de bem que lhe deu um voto de confiança mas que não pertence aos grupos mais sugestionáveis por fake news e palavras de ordem ou que sofreram lavagem cerebral.

Quem já desconfiava das verdadeiras intenções de Bolsonaro com o enfraquecimento de Sérgio Moro e do Ministério Público, o esvaziamento do Coaf, o sumiço do Queiroz e as manobras suspeitas para impedir a investigação de crimes ou ilegalidades flagradas em movimentações financeiras injustificáveis, como os depósitos nas contas do filho e da mulher do presidente, agora tem uma certeza: Bolsonaro é mais do mesmo!

E quem diz isso não são esquerdistas invejosos, comunistas, petistas, eleitores de Fernando Haddad, inimigos reais ou imaginários do bolsonarismo. São os próprios eleitores do presidente Bolsonaro que agora sentem na pele o ódio e a perseguição dos milicianos virtuais e dos assassinos de reputação que agem de forma orquestrada nas redes sociais. Bolsonaristas simplesmente não admitem a crítica construtiva. Partem para o ataque e a eliminação sem dó.

Não à toa, os filhos de Bolsonaro começaram juntos uma campanha na tentativa de desestimular e até mesmo desqualificar qualquer crítica ao governo, como se todas fossem vinculadas à oposição ou a pessoas mal intencionadas.

O próprio presidente afirmou que criticar o governo agora é apressar a sua queda e o retorno do PT. “Se não acreditarem em mim e continuarem a me criticar, mais cedo eu caio e mais cedo o PT volta", afirmou Bolsonaro.

Parece uma sentença premonitória. Ou puro terrorismo infantilóide, como a ameaça do homem-do-saco que se usava para amedrontar crianças. De qualquer modo, está decretado o princípio do fim. Começou a contagem regressiva para o fracasso do bolsonarismo.

O que todos precisam entender é que a rejeição aos desmandos do PT e a ojeriza à política tradicional, ou mesmo o voto pontual da maioria do eleitorado em Jair Bolsonaro, não foram uma carta branca ou um salvo-conduto para que a direita repetisse os erros da esquerda. Confiança e maioria são circunstanciais, momentâneas e perecíveis.

A frustração e a desesperança voltam a dominar o ambiente. O brasileiro não é bobo. Pode até ser enganado por algum tempo, sempre de boa fé. Mas logo acorda, sacode a poeira e corrige o erro. A maioria do povo já esteve com Sarney, com Collor, com FHC, com Lula, com Dilma... Se está - cada vez menos - com Bolsonaro, é por ter acreditado que algo mudaria para melhor. A política é cíclica. E o fim, inevitável.

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do #Cidadania23 em São Paulo, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do #BlogCidadania23 e apresentador do #ProgramaDiferente.