terça-feira, 29 de outubro de 2019

"Dossiê 2020": Eduardo Jorge no #Suprapartidário

O #Suprapartidário lança hoje uma série de entrevistas sobre o atual momento do Brasil e as perspectivas para 2020.

Reunimos personalidades da política, dos mais variados partidos e das mais diversas tendências, para responder a uma sequência idêntica de cinco perguntas.

O #Dossiê2020 começa com Eduardo Jorge. Ex-presidenciável pelo PV, médico, político e ambientalista, o soteropolitano Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho completou 70 anos no dia 26 de outubro.

Filiado ao Partido Verde desde 2005, foi militante do movimento estudantil e preso pela ditadura militar. Organizou os primeiros conselhos populares de saúde no final da década de 70. Ficou 25 anos no PT paulista, elegendo-se deputado estadual e federal pela legenda para seguidos mandatos, de 1983 a 2005.

Em 1991, propôs a remoção das marcas comerciais dos remédios - um marco inicial para os atuais medicamentos genéricos. É co-autor da legislação constitucional sobre Seguridade Social (Saúde, Previdência e Assistência Social), autor e co-autor de leis brasileiras que regulamentam os medicamentos genéricos, o planejamento familiar e a esterilização voluntária; das leis de vinculação de recursos orçamentários para o SUS e de restrição ao uso do amianto, bem como da lei orgânica da assistência social.

Por duas vezes foi secretário municipal de Saúde de São Paulo: nos governos petistas de Luiza Erundina, entre 1989 e 1990, e no início da gestão de Marta Suplicy, de 2001 a 2002; e secretário do Meio Ambiente nas administrações paulistanas de José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD).

Leia a seguir a entrevista exclusiva de Eduardo Jorge para o "Dossiê 2020":

1) Que momento é esse que o Brasil vive? A democracia corre riscos? Como fazer política diante de tamanho descrédito da população nos partidos e nas instituições?

A democracia moderna, representativa e liberal, é algo muito novo na história da humanidade. Mais ainda no Brasil. Após a ação militar que derrubou o regime monárquico constitucional só podemos contabilizar dois breves períodos como verdadeiramente democrático: 1945/64 e o atual pós constituinte 1987/88.

Assim a democracia precisa ser cultivada / defendida / aperfeiçoada dia a dia. No nosso caso, suas fraquezas principais são o presidencialismo centralizador, o sistema eleitoral fonte de todo tipo de distorções, os partidos sem democracia interna e uma carência messiânica em vastos setores do eleitorado.

A meu ver, um bom tratamento para estes males seriam o parlamentarismo e o voto distrital misto. O momento atual é um teste para resiliência da nossa democracia representativa e liberal. Como, por outros motivos, ela também foi testada nos nove últimos governos pós ditadura militar. Cada governo é um teste novo e diferente.

A qualidade da democracia depende das virtudes de seus partidos, instituições e do grau de maturidade democrática de seu povo.

2) Como enfrentar a atual polarização nas urnas, nas redes e nas ruas? O que propor e como vencer o ódio, o preconceito, a intolerância e as fake news?

A epidemia de polarização, cultura da violência, ódio e intolerância se supera com doses mais fortes e eficientes de diálogo, cultura de paz, tolerância, bons projetos de políticas públicas e um horizonte de esperança para vencer a insegurança e o medo do futuro.

3) Que situação teremos nas eleições municipais de 2020? Que tipo de diálogo e de composição na política e na sociedade são necessários para garantirmos a eleição de alguém digno para a Prefeitura e para a Câmara Municipal? Existe uma receita?

As forças políticas, tanto os extremos da direita e da esquerda que flertam aberta ou dissimuladamente com formas de autoritarismo, como as forças democráticas de direita ou esquerda, conservadores, liberais, ambientalistas, socialistas etc. devem se apresentar com seus programas. Nas grandes cidades, particularmente, devemos entender bem como funciona a eleição em dois turnos para não errar na tática e se ver numa camisa de força num segundo turno.

4) Sendo uma pessoa influente e exercendo incontestável liderança, seu nome sempre é lembrado como opção para as eleições. Qual o seu projeto e as suas expectativas para 2020 e para 2022?

Minha expectativa é ajudar numa composição política que julgo mais adequada para os problemas de um século XXI: liberais com coração, ambientalistas orgânicos, socialdemocratas vacinados contra a tentação autoritária. Sendo velho gostaria também de ver jovens nos parlamentos e executivos.

5) Que legado você, particularmente, gostaria de deixar para as futuras gerações com a sua trajetória e história política?

Que pode um cidadão ou cidadã comum que cuida da família, inclusive dos mais velhos, que consegue ter amigos, que procura ter profissão e trabalhar, que gosta de livros e da natureza, que procura ser não violento, também encontrar espaço para atuar na política de sua cidade, de seu país.

Não é preciso, nem saudável, ser " político profissional" ou "revolucionário profissional" para participar da construção diária da democracia em um país e, no século XXI, da necessária governança global.