quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Nem Bolsonaro, nem Lula, nem Centrão. Como faz?

Se eu critico Bolsonaro, sou acusado de ser petista, esquerdista, comunista, defensor de corrupto. Se eu critico Lula e o PT, sou tachado de bolsonarista, direitista, antipetista, conservador, retrógrado. Se eu me oponho a ambos ao mesmo tempo, sou rotulado de isentão, alienado, tucano ou jogado no balaio do velho Centrão - e ainda me mandam sair de cima do muro. Mas, e se eu não me identifico com nenhuma dessas três vias tradicionais, como faz?

Pior que a polarização habitual, uma divisão pura e simples da política em bolhas ideológicas de direita e de esquerda, é a polarização burra e idiotizada que toma conta do Brasil (e das redes sociais). Nos dois extremos há intolerância, ignorância, ódio, preconceito e aversão à democracia. Mas o centro também não está isento de todos esses defeitos, somados ao oportunismo, ao fisiologismo e à hipocrisia típica desses políticos e partidos que vivem leiloando apoio ao governo da ocasião.

Defender uma solução política fora dos extremos, uma saída equidistante da confrontação entre direita e esquerda, alheia às torcidas pró-Lula ou pró-Bolsonaro, com mais diálogo, racionalidade, responsabilidade, convergência e total respeito ao estado democrático de direito, não me iguala à massa amorfa e fisiológica do Centrão. (Por favor, me inclua fora dessa!)

Afinal, o que me afasta de partidos como o PSL ou a Aliança pelo Brasil, de um lado, e do PT, do PSOL ou do PCdoB, no lado oposto, também não me aproxima de PP, DEM, PSD, Solidariedade, PTB, PL e outras tantas legendas que transitam pelo poder desde a chegada do Cabral (do navegador, Pedro Álvares, ao Sérgio, ex-governador condenado e preso).

Até porque essa balança político-ideológica no Brasil (e no mundo) pende para os dois lados, alternando de tempos em tempos. Os movimentos entre liberais e conservadores, entre progressistas e reacionários, são cíclicos. O eleitorado é volúvel. A maioria é relativa, eventual, pontual, passageira.

Não parece à toa que assistimos a constante inversão de papéis entre governo e oposição. Basta notar como aqui no Brasil já predominaram forças distintas, todas com amplo apoio popular: da ditadura militar ao movimento das diretas; de Sarney a Collor; de FHC a Lula; de Dilma a Bolsonaro. Todos já surfaram na onda da popularidade, viveram seu auge e o declínio. Até chegar a vez do próximo. A fila anda.

Bolsonaro é a bola da vez. Que o fim vai chegar, é inevitável (graças a Deus!). O que não sabemos é quanto vai durar esse ciclo retrógrado (e o tamanho do estrago). Que resultados terá o bolsonarismo nas eleições de 2020? E em qual situação chegará Bolsonaro para a reeleição em 2022 (se chegar)? Quem será seu principal oponente à esquerda? E como vai se recompor o tal centro democrático?

A vantagem do surgimento dessa Aliança pelo Brasil, aberração populista, fundamentalista e autoritária desses nossos tristes tempos, é o filtro natural que instala na política ao reunir sob a nova legenda grande parte dos lunáticos e inimigos da democracia. Isso é bom: o carimbo na testa, que não deixa dúvidas.

Do lado inverso está a tentativa insana de manter o monopólio da esquerda em torno de Lula, avesso à autocrítica e incapaz de reconhecer todos os erros que levaram à ojeriza ao PT e consequentemente à eleição de um inepto, irresponsável, desqualificado e boçal direitista, o meme que virou presidente. Resultado: estão preservados os dois polos que apostam na repetição do "nós x eles".

O bolsonarismo e o lulismo são fenômenos que se retroalimentam. A relação é simbiótica, interdependente. Um mito só sobrevive se o outro for o seu antagonista. Daí que essa polarização burra e idiotizada une para sempre Lula e Bolsonaro, bem como arrasta e mantém seus exércitos e milícias de fanáticos e lunáticos nas redes, nas ruas e nas urnas.

Qualquer tentativa de quebra dessa polarização será atacada igualmente por lulistas e bolsonaristas. Em 2018 funcionou: eles simplesmente aniquilaram qualquer opção de alternativa aos dois extremos. As candidaturas de Ciro Gomes, Marina Silva, Geraldo Alckmin, Álvaro Dias, Henrique Meirelles e João Amoedo foram trucidadas. Outras cogitadas, como as de Joaquim Barbosa, João Doria e Luciano Huck, nem foram adiante.

Agora o movimento se repete: Doria e Huck, principalmente, despontam como possíveis candidatos do centro, que tenta se realinhar. Nomes como Ciro, Marina e Barbosa serão sempre lembrados. Ainda no topo de todas as pesquisas aparece Sérgio Moro, que enfim precisa definir se passará à história como herói da Lava Jato ou serviçal do bolsonarismo. São as peças colocadas hoje no tabuleiro eleitoral. Isso dá jogo? Qual o seu lado?

Mauricio Huertas é jornalista, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do #Suprapartidário, idealizador do #CâmaraMan e apresentador do #ProgramaDiferente.