segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Que tipo de verme comemora os nove jovens mortos em ação da PM no baile da Favela de Paraisópolis?

Para quem não sabe, a favela de Paraisópolis fica encravada no bairro do Morumbi, sinônimo da riqueza paulistana, proximidade que gerou esta foto que é uma das mais emblemáticas já vistas da desigualdade dessa metrópole.

Agora, se não bastasse a miséria e a tristeza da notícia dos nove jovens mortos pisoteados em ação da polícia num "pancadão", o famoso Baile da 17, festa que reunia mais de 5 mil pessoas nas ruas da favela, o mais chocante é ter que ler nas redes sociais muita gente (se é que podemos chamar isso de gente) comemorando a tragédia.

Barulho, sujeira, bebidas e o uso de drogas seriam justificativas aceitáveis para as mortes. "Morreu foi pouco", diz um. "Lá ninguém é bonzinho, só tem drogado e prostituta", diz outra.

Tanto faz se os mortos tem 14, 16, 18, 20 anos.

Poderiam ser meus filhos ou seus? Não, nunca!

"É tudo bandido! Se morreram foi porque eles não estavam em casa com a família".

"Em vez do baile funk, porque não frequentam uma igreja?".

Meu Deus! Que tipo de sociedade é essa que construímos?

Por que as mortes de nove pessoas numa favela (a maioria - não por acaso - com sobrenomes Silva ou Santos) não causam a mesma comoção social de outras mortes em bairros mais nobres?

Por que a repressão da polícia ao barulho, ao álcool e às drogas é relativizada numa festa de favelados e seria inadmissível em qualquer megaevento numa arena ou em alguma casa de shows frequentada por gente descolada das classes média ou alta?

Quem, afinal, pode apanhar ou ser morto pela polícia e quem deve ser protegido?