quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Político precisa se “dar bem”? (Peraí, mas em qual sentido?)

E aí, vc concorda com essa declaração do pré-candidato Andrea Matarazzo (do PSD de Gilberto Kassab)?

O prefeito de São Paulo deve necessariamente “se dar” com o Presidente da República para a cidade e os paulistanos também se darem bem?

Afinal, somos ou não somos republicanos? Vivemos ou não vivemos num estado democrático de direito? Que tipo de política e de políticos desejamos?

Será que os destinos de uma metrópole do tamanho de São Paulo estão subordinados a simpatias pessoais, interesses partidários, vaidades e afinidades ideológicas?

Temos que escolher alguém aliado de Bolsonaro e afinado ao bolsonarismo? Ou, muito pelo contrário, até para garantirmos os pesos e contrapesos da democracia, devemos ser a resistência a esses lunáticos?

O mesmo raciocínio vale para a Câmara Municipal. Queremos um Legislativo exclusivamente governista, adesista, fisiológico, uma base única, ou a oposição é fundamental para cobrar e fiscalizar o Executivo?

No caso da Prefeitura de São Paulo, nossa história mostra que não é preciso nenhum alinhamento entre prefeito e presidente para a gestão municipal avançar (ou, em oposição, retroceder).

Vamos voltar mais de 30 anos no tempo e refletir: em 1988, Luiza Erundina (então no PT) foi eleita prefeita de São Paulo. O presidente era Sarney. Em 1989 Collor se elegeu e governou até sofrer o impeachment em 1992.

Naquele ano, Itamar Franco assumiu a Presidência e Paulo Maluf se elegeu prefeito. Alinhamento zero. Em 1994, o presidente eleito foi Fernando Henrique. Celso Pitta sucedeu Maluf em 1996 e governou de 1997 a 2000 ainda sob a presidência de FHC.

Marta Suplicy se elegeu prefeita em 2000. O petista Lula só se elegeria presidente em 2002, portanto o PT “casou” a Prefeitura com a Presidência por dois anos, em 2003 e 2004.

Mas o prefeito eleito naquele ano foi o opositor José Serra (PSDB), derrotando a própria Marta. Lembrando ainda que o Governo do Estado jamais deixou de ser tucano (em dobradinha com o ex-PFL, atual DEM).

Na sequência, de 2006 a 2012, o prefeito foi Gilberto Kassab. Talvez aí tenha sido inaugurado o período de “se dar bem” com todo mundo. Do PT ao PSDB (passando por Temer e agora com Bolsonaro), o lema kassabista é “se dar bem”.

Veio a eleição de Fernando Haddad em 2012, casada com a gestão da presidente Dilma Rousseff até 2016. O que aconteceu? Ambos naufragaram politicamente. Dilma pelo impeachment, substituída pelo vice Temer, e Haddad derrotado por João Doria (PSDB).

Hoje temos o sucessor de Doria, o tucano Bruno Covas, disputando a reeleição como um prefeito claramente de oposição ao bolsonarismo - e com algum favoritismo, segundo as pesquisas. De outro lado, um grupo enorme e fragmentado disputando o voto bolsonarista. Que fim isso vai dar?