terça-feira, 27 de outubro de 2020

Chegou a hora de cobrar dos candidatos um compromisso público com a sustentabilidade e ações concretas para combater os crimes ambientais


Você já deve ter notado que a sustentabilidade é uma das nossas preocupações mais frequentes na página. Lutamos por parques, contra a destruição de praças, pela conscientização das pessoas sobre a tragédia do incêndio no Pantanal, o desmatamento na Amazônia, a poluição, as mudanças climáticas, os maus tratos aos animais...

Mas São Paulo tem um problema gravíssimo permanente, um crime ambiental acontecendo aos olhos do poder público diariamente e que precisa ser enfrentado com mais coragem e ação pela Prefeitura: a destruição do que resta de Mata Atlântica em território paulistano e a ocupação ilegal das áreas de mananciais.

No entorno das represas Billings e Guarapiranga, por exemplo, há dezenas de novos empreendimentos em áreas de preservação, todos obviamente irregulares, que evidenciam o poder dos criminosos, um comércio ilegal às custas da destruição da natureza e o descaso cúmplice das autoridades municipais e estaduais.

Essa devastação silenciosa e assassina avança com loteamentos clandestinos sobre áreas que não poderiam ser habitadas e cresce no vácuo entre a omissão do poder público e a carência de moradias populares - o que faz com que proliferem novas ocupações, bairros e até condomínios de alto padrão, perpetuando o problema.

O vereador Gilberto Natalini - que não é candidato à reeleição - realizou um amplo e minucioso trabalho que resultou num dossiê detalhado comprovando a ligação do desmatamento com a atuação do crime organizado. O relatório lista 160 áreas devastadas para a criação de loteamentos clandestinos na capital, a maioria no entorno das represas na zona sul da cidade.

A Revista Veja São Paulo desta semana também destaca o assunto em excelente matéria de capa. São ao todo 7,2 milhões de metros quadrados de áreas verdes suprimidas, mapeadas por imagens aéreas. O número corresponde a quase cinco vezes o tamanho do Parque Ibirapuera (ou à soma dos bairros do Pacaembu, Jardim América, Alto de Pinheiros e Alto da Lapa).

No lugar da mata devastada e das árvores derrubadas cabem 48.000 lotes de 150 metros quadrados cada um. O faturamento obtido nesse negócio mafioso pode passar de 1,9 bilhão de reais, calcula o vereador, com base no valor médio de 40.000 reais por unidade.

“Eu mandei o dossiê para mais de 700.000 pessoas por e-mail, WhatsApp, Instagram e Facebook. Para o exterior foram 600 cópias, incluindo o Parlamento Europeu, o Bono Vox e até o papa”, afirma Natalini, que desistiu de concorrer à sexta eleição seguida.

“O pessoal fala da boiada do Salles (ministro do Meio Ambiente), mas essa que está passando nos nossos mananciais é grande e encorpada. Calculamos 1,2 milhão de árvores derrubadas, mas a questão não é só árvore, é água. As nascentes em breve vão para o espaço e ninguém dá bola.”

O desmatamento e as invasões prosseguem, acabando com a flora e a fauna, ameaçando o nosso futuro, embora muita gente ainda pense que a preservação ambiental e a sustentabilidade sejam preocupações supérfluas diante de tantas outras prioridades sociais e econômicas para a gestão pública.

Mas cuidar do verde, do ar, da água, do solo, do clima é cuidar da vida. É investir na saúde, no bem estar e na sobrevivência do ser humano. A Prefeitura e a Câmara Municipal precisam assumir as suas parcelas de responsabilidade.

Podemos seguir neste silêncio conivente e conveniente - como se não tivéssemos nada com isso - ou botar a boca no trombone. Exigir dos candidatos um compromisso e cobrar dos eleitos a solução viável desse cenário de caos. Qual é a sua escolha?