terça-feira, 13 de julho de 2021

Ninguém é melhor corretor de imóveis para lançamentos de alto padrão do que o prefeito e os vereadores de São Paulo


Ontem no fim da noite, em plena segunda-feira, o que é completamente ANORMAL na rotina da Câmara Municipal de São Paulo, os vereadores paulistanos realizaram sessão extraordinária para discutir e votar a toque de caixa o Projeto de Intervenção Urbana do Setor Central, que abrange Sé, República, Brás, Belém, Pari, Bom Retiro e Santa Cecília (ou 21 milhões de metros quadrados em uma das regiões mais ricas da cidade).

Na semana passada, a Câmara Municipal também aprovou em 1ª votação - e quer rapidamente apreciar em segunda e definitiva deliberação - a Operação Urbana Bairros do Tamanduateí, que se arrastava há anos por envolver interesses imobiliários escandalosos e inconfessáveis em bairros de altíssimo potencial de venda de apartamentos de luxo, como Mooca, Vila Prudente, Cambuci e Ipiranga.

Sim, porque os 39 vereadores de ontem e os 45 da semana passada, que aprovaram os projetos, não podem alegar desconhecimento de que o pano de fundo dessas intervenções urbanas é vender, a preço de banana, licenças para o descumprimento das leis ambientais e de zoneamento, privilegiando construtoras e imobiliárias que tem planejados seus lançamentos de condomínios de altíssimo padrão nesses bairros.

São Paulo está à venda. Você entendeu: o argumento para a aprovação a jato desses projetos de lei com disfarce social é “o desenvolvimento urbanístico, o fomento da economia local, obras de melhoramento viário e de infraestrutura, além de promover o adensamento habitacional e populacional da região”. (Ah, vereadores são tão bonzinhos!)

Na prática, porém, vale só mesmo a sanha arrecadatória da Prefeitura, incensada pelos despachantes de luxo de construtoras e imobiliárias com assento entre os 55 vereadores de São Paulo, que permitem que a cidade seja ainda mais desfigurada em troca de dinheiro sujo. (Ops! Olha o golpe aí!)

Calma lá, mas como você pode afirmar que é DINHEIRO SUJO se está tudo dentro da lei? Pois então, exatamente por isso. Porque a lei é aprovada sob medida, por encomenda para atender interesses que não são os da maioria da população. Há poucos beneficiados, em detrimento do planejamento urbano, do meio ambiente, da saúde, da segurança, da moradia e da qualidade de vida em geral.

Então, é dinheiro sujo, sim. Por exemplo, já falamos insistentemente por aqui: Na Mooca, querem destinar para a exploração imobiliária grande parte de uma área que por décadas foi ocupada e contaminada pela empresa Esso - e que toda a população reivindica com justiça, até como reparo histórico, para um grande parque verde, com projetos tramitando na Câmara, inclusive.

Qual é a lógica parlamentar? Vão atender aos interesses econômicos de uma única empresa, ao permitir que sejam comercializados apartamentos de alto padrão no último espaço disponível para a implantação de um parque (o que beneficiaria toda a comunidade), enquanto o próprio entorno é repleto de áreas degradadas, favelas, cortiços, imóveis e galpões abandonados que poderiam ser destinados a projetos de revitalização e moradia popular.

Parece que não interessa aos vereadores buscar a melhor solução, adequada aos interesses e às necessidades dos moradores desses bairros, mas (como está na moda) criar a narrativa mais conveniente a eles próprios, ao FINGIR que estão votando projetos com viés social (prometendo moradia popular para famílias de baixa renda, implementação de equipamentos públicos e restauração de patrimônios históricos).

A realidade é bem diferente. Além do adensamento da população sem planejamento e estrutura, os grandes beneficiados por essas leis caça-níqueis aprovadas de maneira bem dirigida (e isso é facilmente comprovável, um a um) são empresários, construtores, investidores e incorporadores imobiliários que, por uma dessas coincidências da vida, são também grandes doadores eleitorais do prefeito e dos vereadores. E a cidade que se dane!