quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Deus, Pátria, Família e Liberdade


Os valores defendidos pelos bolsonaristas uniformizados (assim como historicamente se apresentavam integralistas brasileiros, fascistas italianos e nazistas alemães) não deixam dúvidas: o bolsonarismo é um movimento popular forte, arraigado na sociedade, fanático, apaixonado, organizado, crescente e que veio para mudar o Brasil.

Afinal, quem vai questionar o amor por Deus e pela Pátria do brasileiro que faz arminha com os dedos, a defesa da Família e da Liberdade? Só mesmo os inimigos da Nação, esquerdistas, comunistas, jornalistas, ateus, ambientalistas, gays, travestis, intelectuais, maconheiros, macumbeiros e todos esses tipos indesejáveis por homens e mulheres de bem. Mas a nossa bandeira jamais será vermelha!

Em nome de Deus. Que Deus é esse que defende Bolsonaro? Qual o Deu$ de Silas Malafaia, Edir Macedo, Valdemiro Santiago, e das igrejas caça-níqueis, e de pastores charlatões? Deus do ódio, do fundamentalismo preconceituoso, da intolerância, do anti-cristianismo, do dízimo que encobre a lavagem de dinheiro, do império de comunicação dessas organizações mafiosas de direita que se apoderam do Estado laico (inclusive com esquemas como aquele flagrado no MEC e os crimes defendidos pela bancada da Bíblia). Só por Deus, mesmo.

Em nome da Pátria. Quem negará o nosso amor pelo verde e amarelo, o orgulho de cantar o Hino Nacional a plenos pulmões, o prazer de ver a nossa bandeira tremular nas ruas e janelas? Tanto faz se estamos dominados por milicianos, militares, lunáticos, demagogos, hipócritas e os mesmos corruptos de sempre. Não me preocupo se Bolsonaro governa com o Centrão, orçamento secreto, foro privilegiado, sigilo de 100 anos e se o 22 na urna é do partido de mensaleiro preso. Importante é tirar o PT, porra!

Em nome da Família. Não podemos tolerar esse papinho de ideologia de gênero, gayzificação das nossas crianças (lembra do kit gay?), acesso livre à cultura que planta ideias subversivas no seio da tradicional família brasileira. Queremos escolas sem partido. Defendemos o direito do ensino domiciliar para proteger nossa juventude de professores comunistas infiltrados e adeptos dos métodos de Paulo Freire, que incluem o incentivo às drogas, ao nudismo, à prostituição e à pedofilia. (Repassem essa mensagem no whatsapp, por favor)

Em nome da Liberdade. Querem tirar o nosso direito de andar armado para defendermos a nossa honra, a nossa propriedade e fazermos justiçamento. Sem armas, como vamos nos defender de manifestantes de esquerda, socialistas, comunistas, ladrões, invasores sem-teto, pobres, negros, nordestinos, professores, jornalistas e atores da Globo lixo, cantores de MPB e de funk lulistas que mamavam na Lei Rouanet se não pudermos nos declarar colecionadores de armas ou caçadores? Por isso, viva Bolsonaro!

Talvez muitos ainda não compreendam a profundidade do poema “No caminho, com Maiakóvski”, de Eduardo Alves da Costa. Talvez um dia seja tarde demais.

“Na primeira noite eles se aproximam

e roubam uma flor

do nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem:

pisam as flores,

matam nosso cão,

e não dizemos nada.


Até que um dia,

o mais frágil deles

entra sozinho em nossa casa,

rouba-nos a luz e,

conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz da garganta.


E já não podemos dizer nada.”