terça-feira, 10 de setembro de 2019

O que explica esse conchavo do filho e do partido de Bolsonaro com políticos suspeitos do PT e do Centrão para tentar impedir a criação da CPI da Lava Toga?

Estão cada vez mais evidentes as manobras governistas para tentar impedir investigações incômodas aos três poderes da República.

Se não bastasse interferir na Lava Jato ao trocar o comando da Polícia Federal, esvaziar o Coaf e nomear um Procurador Geral visto como manipulável, o presidente Jair Bolsonaro deixa as suas digitais também na pressão e nos conchavos para barrar a chamada CPI da Lava Toga.

O senador Flavio Bolsonaro (PSL/RJ), amigo do suspeito Queiroz, assumiu pessoalmente as articulações para tentar evitar que os ministros do Supremo Tribunal Federal sejam investigados no Senado, como propõe o senador Alessandro Vieira (Cidadania/SE) e os 27 signatários do pedido de CPI.

O deputado federal Luciano Bivar (PSL/PE), presidente nacional do partido, confirmou que o filho de Bolsonaro está atuando diretamente para que senadores retirem suas assinaturas do requerimento e assim seja derrubada a terceira tentativa de instauração da investigação sobre o Judiciário no Legislativo, sem o mínimo necessário de apoiadores.

"Quando ele pede, está respaldado em cima do partido, com certeza", afirmou Bivar sobre a interferência do senador Flávio Bolsonaro. "O que a gente quer é a governabilidade. Não adianta você ir contra os outros Poderes. O PSL não tem esse sentimento."

A pressão sobre os parlamentares é reforçada ainda pela atuação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM/AP) e pelo presidente do STF, ministro Dias Toffoli. A confirmação desse conchavo vem de outro deputado federal do PSL, o paulista Coronel Tadeu, que postou (e depois apagou) nas redes sociais uma denúncia da pressão sofrida por senadores e sanadoras para impedirem a investigação.

E aí, meus caros eleitores brasileiros e simpatizantes do presidente? O que dizer desse acordão em Brasília reunindo de bolsonaristas a petistas, passando por políticos suspeitos de corrupção do Centrão, além dos tão criticados ministros do STF que seriam justamente os maiores inimigos da Lava Jato? O que explica essa manobra vergonhosa com cheiro de pizza?

Será uma troca de favores para limpar a barra de todo mundo que poderia ser pego com a boca na botija? Será que o Executivo e o Legislativo estão passando o pano agora para o Judiciário em troca das investigações que foram interrompidas por ordem do Supremo e tinham flagrado ilegalidades da família Bolsonaro, inclusive supostas ligações com milicianos e movimentações financeiras suspeitas nas contas do filho e da esposa do presidente?

São perguntas que ficam no ar. A dúvida é legítima, já que o próprio PSL, o partido do presidente, que se dizia tão diferente dos demais, é quem está patrocinando essa articulação da chamada "velha política". Estranho, não?

O que as meninas superpoderosas do bolsonarismo e dos movimentos pela ética na política (as deputadas do PSL Joice Hasselmann, Carla Zambelli e Bia Kicis) tem a dizer sobre essa manobra vexatória do governo? Estão caladas???

Por outro lado, a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL/SP), recordista de votos na história do Brasil, contraria mais uma vez o comando do seu partido e declara total apoio à CPI da Lava Toga. Ela faz ainda um alerta sobre o machismo inerente da política e do governo, já que a maior pressão está sendo exercida exatamente sobre as mulheres no Senado.

"Muito significativo que justamente as senadoras estejam sendo pressionadas. Mantenham as assinaturas, senadoras! Contamos com Vossas Excelências!", afirmou Janaína. "A CPI da Lava Toga não é contra o Poder Judiciário! É a favor! O Judiciário é muito importante, por isso a CPI é necessária! Eu apoio os senadores que pedem a CPI! Muda Senado, muda Brasil!".