domingo, 4 de outubro de 2020

Você votaria no Kid Bengala, no Toninho do Diabo, no Reacionário de Topete ou na Vovó Equilibrista?


Nem sempre dá para levar a política a sério, e isso é triste. Batalhamos muito para consolidar a nossa democracia, mas basta ler os nomes de alguns candidatos para cairmos numa espiral que vai do humor involuntário ao mais puro escracho.

Do riso à depressão conferindo a nominata de concorrentes à Câmara Municipal de São Paulo nesta campanha que se inicia. Deveria existir um mínimo de bom gosto e sensatez tanto na hora em que os partidos definem suas chapas, quanto no momento em que os candidatos escolhem seus nomes na urna eletrônica.

Mas se você tapar o nariz e seguir adiante, alguns nomes registrados são até bastante didáticos e elucidativos sobre o perfil dos candidatos e dos próprios partidos. Revelam, por exemplo, os interesses, a profissão, a formação ou a religião de cada um.

Para se ter uma ideia, há 22 candidatos identificados como pastores (Pastor Fulano de Tal), 3 apóstolos e 5 bispos (como a Bispa Justa, do PTC). Há ainda um rabino (Rabino Ventura, do Cidadania), uma mãe de santo (Mãe Flaviah de Iansã, do PDT) e nenhum padre.

A denominação profissional mais corriqueira entre os nomes registrados na urna é Professor ou Professora. São 91. Em seguida, os auto-intitulados “doutores”, somam 72. Aí reunidos médicos, advogados e outros que acham que a ostentação antes do nome impõe respeito.

É o caso também de um tsunami de policiais civis e militares que disputam a eleição de 2020, um recorde histórico de fardados desde a redemocratização, talvez para surfar na onda bolsonarista, e que usam a patente como chamariz do voto.

Dentre os candidatos paulistanos que pretendem compor a chamada bancada da bala na Câmara Municipal há 14 auto-denominados cabos, 11 coronéis, 11 sargentos, 5 majores, 5 bombeiros, 4 delegados, 3 tenentes, 3 policiais e 2 comandantes.

Usam a hierarquia militar no nome ainda 6 capitães, entre eles um legítimo Capitão América, ou mais precisamente Capitão America de Paula (MDB), talvez para não confundir com o personagem dos Vingadores.

Mas a galeria de super-heróis é vasta: desvendamos os disfarces de Leiliane Mulher Maravilha (PL), Normandy Pantera Negra (PT) e até um insuspeito André Stark (Rede), possivelmente parente de Tony Stark, o Homem de Ferro.

Há ainda outros heróis mais genuinamente brasileiros, como Índio Vigilante (PTC), O Defensor das Mulheres (PSB) e O Guardião da Cidade (PSL), assim identificados na urna, sem um nome próprio e sem falsa modéstia.

Nada modestos também são Zé Bonitinho (PTC), Abençoado da Bahia (PSC), Andrezão do Povo (PV) e o indefectível Kid Bengala (PTB) - astro do cinema pornô e famoso, digamos, pelo tamanho do talento que demonstra nos filmes.

Talvez isso nada tenha a ver com Carlos Potência (PDT) e Everton Potência (PL), muito menos com Antonio Marcha Lenta (Solidariedade) ou Caio Japa Morfo (Patriota), mas vai saber a explicação psicanalítica dessa associação.

Outras profissões agregadas ao nome dos candidatos são, por exemplo, Engenheiro (5), Enfermeira (3), um zelador (Genival Zelador, do MDB) e até uma podóloga (Podóloga Val Dutra, do Podemos). Vai que dá pé...

Há também uma relação involuntária de trabalhadores em funções correlatas, como Belo do Transporte (Solidariedade), Breno da Carreta (PV), Caio Catraca (PDT), Betão do Lava Rápido (PROS), Gil da Borracharia (Republicanos), Messias da Oficina (PL) e Miro Mecânico (PRTB).

Talvez pudessem prestar serviços para Marlon do Uber (Patriota) e Rafael do Uber (DC). Ton da Lotação (Avante) e Pedrão da Lotação (Avante). Betão Motoboy (PCdoB), Tiago Moto-Boy (PV), Homem da Moto (Avante), Wladmir Boy (PROS) e Marcio Entregador (Patriota).

Ainda no segmento de duas e quatro rodas temos Oliveira Despachante (Avante), Rodolfo Despachante (PSC) e Toninho da Ambulância (Avante), que em tempos de pandemia agrega ao setor Toninho da Farmácia (Republicanos) e Danilo do Posto de Saúde (Podemos).

Fiéis à Pátria e à regionalidade temos o Ceará (MDB), o Paraíba (PT), o Bahea (MDB) e o Bahiano Louco (PSB), acompanhados pelo Turco Loco (PSDB), o Bananinha Maluco (MDB) e o Jacky Maluco (PSL).

Com fome de voto tem Batata (PROS), Berinjela (Avante), Tomataço (PRTB), Rodrigo Cebola (Solidariedade), Filé (Avante), Peixe (PCdoB), Kleber Kibe (PL), Luiz Paztel (PDT) e Mortadela (Podemos).

Temos ainda Edson da Fogazza (PSB), Emerson Macarrão (PT), Mel Dourado (DEM), Lavoura (PV), Ray do Pescado (Republicanos), Marco Vegano (MDB) e o Zecão Doceiro do Patrão (PMN).

O Podemos chega com uma incrível dupla pop: Buiu do Povo e Buiu Eu Acredito. Há ainda o Claudio Homem (PDT) e o Claudio Grillo (Republicanos). O PMN não se decide entre Mauricio Careca e David Cabelo. E o PRB ataca com o Reacionário de Topete.

Entram na dança o Caetano do Forró (PSC) e o Valentim do Forró (PROS). Festival (PSDB), Fernando Boêmio (PSD), Miltão da Adega (PCdoB), Vanderlei Adega (PL) e Paraná da Padoca (Podemos) fecham a noitada.

Temos a apropriação de nomes famosos da TV, como Datena (Avante) e Marcelo Taz (PV); do futebol, como Maradona (MDB), Fabrício Tevez (Podemos) e Falcão (Cidadania); da política, Paulo Maluf (Podemos); e até de emissora de rádio, o Jovem Pan (MDB).

Para fazer história, surge uma Carlota Joaquina que na vida real é Carla Regina e uma legítima Carmem Miranda, ambas no PCdoB. Vemos ainda uma Dra. Joana D’Arc (PSD) de batismo e outra mal abrasileirada Joana Daque (Republicanos).

Tem Fia a Única (PMB), Mãe Ge (PTC), Viúva Leandra (Podemos), Irmão Duda (PSC), Irmã Anita (DEM), Tio Fio (Republicanos), Tio Lauro (PL), Tio Valter (PSC), Vô Edilson (PSB), Vovó Equilibrista (MDB) e até o Papai Noel (PTB).

Tem a Nenem (PROS), o Bebe Vem Aí (PCdoB), Anderson o Jovem (Republicanos), Joao Grandão (PROS), Zenil Baixinho da Estação (PSB) e Pedala Robinho (MDB), que é o anão Nestor do Programa Pânico. O Avante traz também Pegadinha e Ricardo Penetra.

Tem o Cassio do Farol (Avante) e o Cassio Vinte Seis da Norte (PSC). Tem até inspiração noveleira com Dona Jura (PV) e Salve Jorge (Republicanos). Tem o Jamanta (PSOL) e o Jamanta (Solidariedade).

Dá para chegar cantando na urna, pois tem Estrada da Vida (PL), Junior Love (PDT), Nivaldo É o Amor (PROS), Tim Maia (Avante), Vevéta (PSL) e Elvis Esse Eu Conheço (PTB).

Tem um Cebolinha (PTC) e um Cesar Cebolinha (PRTB) para cinco Mônicas, um Sansão (Republicanos), homônimo do coelho da Mônica, e cinco sobrenomes Coelho. Não temos um Pernalonga, mas encontramos um Patolino (PV).

Tem Ganso (Avante), Zebrão (PTB), Bezerra (PSDB), Cabrabom (Podemos), Zé do Bode (PSL) e Tide Cowboy (PTB). Tem até Vereador Periquito (Solidariedade), Cachorro Caramelo (Patriota) e o Xerife Animal (PSL), entre vários defensores dos bichos.

Tem Miss Valquiria (PSC) e Mister Morgan (PV). Tem Fabian Primo Rico (PL) e Favella (MDB), sem luta de classes. Tem Bruno Boina Azul (DC), Amarelinho (PSC), G Black (Republicanos), Nego Einstein (PTB), Negritude Cohab (PMN) e Phumaça (Cidadania).

Se nada disso der muito certo, ou você perder a paciência e o bom humor, passa o Borracha (Cidadania) ou como último recurso apela para o Toninho do Diabo (Solidariedade) e o Popó do Cemitério (PSD). E seja o que Deus quiser...