terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Precisamos de um centro ou de um norte?

O artigo aqui reproduzido traz uma importante reflexão para nós que não somos militantes (muito menos fanáticos) nem do lulismo, nem do bolsonarismo e buscamos uma solução política fora da polarização e dos extremos para o Brasil.

A pergunta embutida (agora explicitada nesse texto) é boa: precisamos de um centro ou de um norte?

Aí que está o perigo: comparar o autoritarismo e o obscurantismo do bolsonarismo raiz com os 14 anos de governos petistas, que apesar de incompetentes e corruptos, jamais deixaram de ser democráticos.

Concordo com o jornalista Ranier Bragon: não deve haver ponderação ou conciliação com o obscurantismo bolsonarista, mas franca oposição. Simples assim.

Ocorre que muitos entre nós, opositores tanto do lulismo quanto do bolsonarismo, caem no discurso tolo de que fazer oposição nos iguala ao PT e ao PSOL. Isso apenas reforça a polarização e nos mistura a essa “nova” direita, ou no máximo ao “novo” centro, que sabemos que de novo não tem nada ao ser capitaneado pelo velho Centrão.

Algo novo, de fato, mais ainda incipiente, talvez esteja no protagonismo proposto pelo Cidadania com Luciano Huck, os movimentos cívicos etc. Mas para tanto eles não podem ser confundidos, à vista do eleitorado, com o velho Centrão. Nem tampouco querer pegar carona no bolsonarismo, enquanto repele a centro-esquerda, a não ser que alguém deles, embora não confesse, prefira apoiar a reeleição de Jair Bolsonaro ou lançar Sérgio Moro em 2022.

O essencial no texto é pontuar que podemos fazer oposição ao petismo e ao bolsonarismo, porém não devemos excluir a esquerda e o centro (centro-esquerda e centro-direita inclusos) de uma frente em defesa da democracia e contra o obscurantismo.

Os governos petistas, com todos os seus crimes, não chegaram nem perto de representar uma ameaça à nossa democracia como demonstra diariamente, a cada fala e a cada ato, este presidente inepto, seu governo de lunáticos, suas milícias virtuais e sua futura Aliança Pelo Brasil.

Se formos misturar banditismo na política e corrupção a ameaças concretas à democracia não podemos poupar nem mesmo a compra de votos para a reeleição do FHC, ou excluir o projeto de perpetuação dos tucanos no poder encabeçado pelo velho Sérgio Motta, o Serjão, com seus métodos pré-mensalão. Mas não consta que o PSDB tenha sido denunciado como inimigo da democracia.

Aliás, nem contra o próprio PT algo do tipo foi denunciado, a não ser em questões pontuais (suas simpatias e cumplicidades com ditaduras latino-americanas, por exemplo) e na retórica da oposição partidária (até de um exacerbado antipetismo), mas convenhamos que não houve nenhuma ameaça objetiva ou mera defesa de golpe aqui no Brasil (como há neste governo) entre os anos petistas de 2003 a 2016.

Em nome de um reformismo supostamente salvacionista, ou da popularidade da onda bolsonarista, não podemos conviver pacificamente com saudosos da ditadura, idólatras de torturadores, defensores de um “novo” AI-5, ministra que propõe a castidade dos jovens, presidente que considera livro didático um lixo porque “tem muita coisa escrita” e declara jornalistas uma espécie em extinção.

É com esses tipinhos que vamos compor e dialogar? Ou nosso papel é justamente expor e denunciar esses absurdos obscurantistas? Afinal, queremos fazer política para agradar a claque e surfar na onda da maioria eventual, que é cíclica, ou para mudar o Brasil?

Cada cabeça, uma sentença. Vamos refletir.