segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

De avenida com o nome do Corinthians à pregação da abstinência sexual antes do casamento, vereadores tem pauta bem diversificada e inusitada de homenagens

No chamado "plenário virtual" da Câmara Municipal de São Paulo há 19 projetos à espera de votos para serem aprovados pela maioria dos 55 vereadores paulistanos. A pauta atual, da 12ª sessão extraordinária virtual, está aberta até o dia 21 de fevereiro.

Tem de tudo: do Dia das Mulheres Motociclistas no calendário oficial da cidade à denominação de Avenida Sport Club Corinthians Paulista nas proximidades da Arena do Corinthians, entre a Rua Dr. Luiz Ayres e a Avenida José Pinheiro Borges, em Itaquera.

Há ainda homenagem aos 30 anos do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, agrados católicos e evangélicos, e uma salva de prata ao "Instituto Escolhi Esperar", que prega a abstinência sexual dos jovens até o casamento.

Segundo o proponente da homenagem, o vereador Rinaldi Digilio (Republicanos), trata-se de "um instituto cristão, que atua especificamente em duas áreas: preservação sexual e integridade emocional."

Prossegue ainda a descrição, na justificativa da homenagem oficial: "Foi criado com o propósito de encorajar, fortalecer e orientar os solteiros cristãos a esperarem até o casamento para viverem suas experiencias sexuais. Outro objetivo é ajudar as pessoas a desenvolverem relacionamentos amorosos saudáveis e duradouros."

E, para não deixar dúvidas: "O instituto tem uma mensagem centrada na importância de viver uma vida em santidade e pureza baseada nas escrituras sagradas. Não é uma campanha voltada somente para pessoas virgens, mas também para aqueles que já tiveram experiências e agora decidiram se preservar até o casamento. É aberta para a participação de pessoas de todas as idades."

Vereadores persistentes

Assim como o "Instituto Escolhi Espertar", que retorna pela segunda vez à avaliação dos vereadores, há outra tentativa de homenagem ainda mais insistente. Pela terceira vez na pauta, sem ter atingido o quórum mínimo necessário para aprovação nas duas vezes anteriores, retorna uma controversa tentativa de homenagem que confunde interesses públicos, pessoais e comerciais.

Com recorde de abstenções e votos contrários (fato incomum nesse tipo de votação), é um projeto de decreto legislativo do vereador Ricardo Teixeira (DEM) que propõe conceder uma salva de prata à empresa Business Assessoria e Consultoria Ltda., sediada em São Bernardo do Campo.

Mas, afinal, o que essa empresa localizada fora da cidade teria de tão especial para merecer uma homenagem oficial do Legislativo paulistano, paga por cada um de nós, cidadãos e contribuintes?

De acordo com a justificativa do autor, o mérito é pelo fato de a empresa ter sido "criada para realizar o sonho de muitas pessoas em ter a dupla cidadania, apoiando atividades de educação e intercâmbio cultural". Mais vago e genérico, impossível.

Então, ao pesquisar sobre o proprietário da empresa, Sérgio Ricardo Luccas Torres, descobrimos que ele era também assessor e apoiador do próprio vereador, nomeado até a apresentação desse projeto na Liderança do DEM na Câmara e presidente do PHS em Cananéia.

Ele respondia ainda a ação do Tribunal Regional Eleitoral por não ter apresentado a prestação de contas do seu partido em 2018. Mais inusitada era uma intimação, publicada na mesma época, citando o "homenageado" que, segundo o juiz eleitoral, estava em "lugar incerto e não sabido".

Além do vínculo profissional na Câmara e de ser proprietário de outra empresa (SI Torres Construtora Ltda.), a pesquisa também indica uma relação pessoal e comercial com o vereador Ricardo Teixeira, que em julho de 2016 teria comprado 50% de um imóvel do "homenageado" em Cananéia, em 50 parcelas (que venceriam, portanto, às vésperas da eleição de 2020).

As informações são públicas e constam da documentação do então candidato, que foi reeleito vereador em 2016 pelo PROS e migrou para o DEM. Antes disso foi eleito pelo PSDB em 2008 e pelo PV em 2012.