domingo, 2 de fevereiro de 2020

Para que serve o bom jornalismo, afinal?

O jornalismo vive dias difíceis. Os inimigos da boa informação, da luz sobre os fatos e da transparência dos acontecimentos estão por toda parte.

Houve um tempo em que jovens idealistas sonhavam em ser jornalistas. Traduzir para o maior número de pessoas o quê (a ação), quem (o agente), quando (o tempo), onde (o lugar), como (o modo) e por que (o motivo) já foi uma profissão de respeito.

Era uma época em que não se discutia mais se a Terra era plana ou redonda, que ditaduras de esquerda e de direita eram igualmente repudiadas, que censores e torturadores eram odiados ao invés de serem idolatrados, e o obscurantismo estava fora de moda.

Hoje o bom jornalismo é raro de se encontrar. E, quando se encontra, os inquilinos do poder, os obscurantistas, os facínoras, os opressores, os lunáticos tratam logo de tentar desqualificar.

Afinal, não há nada mais incômodo e inoportuno do que revelar as entranhas do poder, as engrenagens do sistema, os bastidores daquilo que se tenta esconder do grande público. Mais ainda quando não se consegue calar o jornalista pela influência do poder político ou econômico, da ameaça física ou psicológica, nem mesmo pela força da lei.

Jornalismo raiz, verdadeiro, isento, corajoso, independente, crítico, fiscalizador, investigativo é uma ameaça terrível para esquemas criminosos, para maus políticos, autoritários, corruptos, irresponsáveis, populistas, hipócritas e demagogos em geral.

Mas o bom jornalismo resiste. Não com a falsa ideia de um jornalismo imparcial, pois temos lado. Defendemos objetivamente o estado democrático de direito e os princípios republicanos, damos voz às minorias e aos excluídos, denunciamos os usurpadores do poder, combatemos o ódio, a intolerância e o preconceito.

Queremos a vitória da civilização contra a barbárie. Priorizamos a ética e o bom senso. Valorizamos a educação, a ciência, as artes e a cultura. Ouvimos todos os lados da notícia, damos visibilidade a todo o amplo espectro político, mas jamais nos rendemos às armadilhas da polarização partidária, nem ao fanatismo das bolhas ideológicas.

Enquanto incomodarmos da mesma maneira a esquerda, a direita e o centro, estaremos cumprindo bem o nosso papel.

Que satisfação indescritível é ser acusado de esquerdalha pelos bolsonaristas, ou de ser tachado ao mesmo tempo de lulista e de anti-petista, como se isso fosse possível, enquanto ambos tentam te carimbar de isentão mas também quebram a cara quando acusamos o fisiologismo e o corporativismo do centrão.

Rótulos não nos definem. Não vão conseguir nos enquadrar, nem dispor nas prateleiras emboloradas da velha política e do mau jornalismo a serviço dos interesses de grupos ou quadrilhas. Pensamos fora da caixa, mas não andamos fora do trilho. Estamos do lado da justiça, da verdade e do interesse público. Então, se vira aí porque estamos de olho, mané!