sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Nossa opinião sobre as manifestações do bolsonarismo

Pessoalmente, ainda que discordemos, não temos nada contra quem votou, com boa-fé, em Jair Bolsonaro para a Presidência da República.

Seja em repúdio aos governos anteriores, como forma de retaliação à roubalheira do PT, buscando uma opção mais à direita no espectro ideológico e partidário ou até mesmo por acreditar realmente que ele pudesse representar algo de novo na política.

Assim funciona a democracia.

Venceu a maioria, embora muitos de nós, do outro lado, julgasse que se tratava de uma opção equivocada, com um candidato despreparado, inepto e desqualificado. Mas ninguém é obrigado a pensar igual, nem ter acesso às mesmas informações sobre o histórico bolsonarista e todos os fatos desabonadores da sua trajetória política.

Da mesma maneira, não temos nada contra manifestações populares e pacíficas, sejam nas ruas, nas redes ou nas urnas, cobrando atitude, postura e coerência de políticos ou juízes. Ninguém é intocável e as liberdades de expressão e de pensamento são garantias constitucionais.

A população tem todo o direito de reclamar, reivindicar, cobrar, fiscalizar e criticar quem ela bem entender, em qualquer um dos três poderes, do Congresso Nacional ao Supremo Tribunal Federal.  Cada servidor público do município, do estado ou do país, e também a imprensa. Tudo isso é legítimo.

Agora, sob outra perspectiva, só pode ser muito desinformada ou mal intencionada a pessoa que votou em Bolsonaro mas não admite nenhuma crítica nem vê nenhum problema nas suas ações e declarações.

Quem não quer enxergar como a crise é agravada pela falta de postura e decoro do presidente. Os erros recorrentes de gestão, seja no trato da educação, da cultura, do meio ambiente ou da economia, na relação institucional com o Legislativo e o Judiciário, ou no dia-a-dia bélico e caótico deste governo.

E tem só mais um detalhezinho importantíssimo, fundamental: Manifestação democrática é uma coisa; apologia ao golpe é outra, completamente diferente.

Não vamos calar, nos acovardar nem aceitar resignados quem sai às ruas ou infesta as redes sociais com manifestações de ódio e com uma absurda e criminosa defesa da ditadura, da censura, de atos como o AI-5, o fechamento do Congresso e do Supremo.

Não tem nada de democrático nem legítimo ao pedir uma intervenção militar ou, pior, achar que é seu direito atentar contra os poderes constituídos e os pilares republicanos. Precisa ser imediatamente rechaçado quem trata com normalidade ou deboche episódios vergonhosos da nossa história, como a tortura.

Não é possível concordar com que alguém usurpe a própria democracia para defender uma ruptura autoritária, golpista.

Ou que tenha a ousadia, a ignorância e a falta de discernimento para zombar da dor e do sofrimento que atingiu a tantos brasileiros num passado recente, e que deixou feridas ainda não cicatrizadas.

Neste cenário de polarização política, eleitoral e ideológica, há muita gente sem noção. Mas deve haver também um mínimo de princípios e limites que são intransponíveis. A barbárie não pode vencer a civilização.

O que dizer, por exemplo, de mulheres que se mostram orgulhosas de ter votado em Bolsonaro e saudosas da ditadura, da censura e da tortura? Como é possível essa ausência total de humanidade, bom senso, empatia e sororidade? Será que essas mulheres sabem que ratos e cabos de vassoura eram enfiados na vagina de outras mulheres pelo simples fato de pensarem diferente? Isso é aceitável?

Não, não é aceitável. Não, não vamos calar. Não, a democracia não aceita qualquer coisa. Não, não é direito achar que se pode reivindicar a volta de uma direita totalitária. Não, eu não preciso ser de esquerda, muito menos petista ou comunista, para me opor a essa ala doente do bolsonarismo, de milicianos, cafajestes, criminosos e assassinos.

Quem não entendeu agora, nunca mais vai entender. Não por falta de informação, mas de caráter. Simples assim.