quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Políticos e cidadãos de esquerda e de direita, uni-vos!

Atenção, brasileiros, amigos, adversários, formadores de opinião, influenciadores, galerinha lacradora da internet; eleitores de Bolsonaro, Haddad, Ciro, Marina, Alckmin, Boulos, Álvaro, Meirelles, Amoedo e até do Cabo Daciolo, ou eleitor de nenhum deles; de simpatizantes partidários a cidadãos avessos à política e aos partidos em geral; de militantes a militontos; bons e maus políticos; dos adeptos da chamada nova política aos mais pragmáticos e tradicionais.

Aviso aos navegantes: estamos todos no mesmo barco, seguidores da direita ou da esquerda, liberais ou conservadores, progressistas ou reacionários. A guerra virtual instalada no Brasil e no mundo deixou de ser a velha disputa eleitoral de quem veste vermelho ou verde e amarelo. Virou guerra da civilização contra a barbárie. Dos democratas contra obscurantistas, defensores das ditaduras (e aí tanto faz se são de esquerda ou de direita), saudosos da censura e idólatras de torturadores e golpistas.

Já perceberam isso ou vão continuar presos à sua própria bolha ideológica nessa polarização burra e deletéria ao país e à democracia? O momento é de diálogo e convergência entre os diferentes. O que deve nos unir - partidos, candidatos, líderes e convicções à parte - é o respeito ao estado democrático de direito e o reconhecimento do espírito cívico legalista que precisa nortear as nossas relações políticas e as instituições republicanas.

Vivemos um período em que são crescentes e diárias as ameaças às conquistas da redemocratização brasileira. O ódio, o preconceito, a intolerância e a selvageria começam a se legitimar em atos recorrentes nas redes e nas ruas. A divergência de ideias cede lugar ao desejo de eliminar o oponente. Os conflitos, embates e antagonismos se deslocam do campo retórico para as ofensas pessoais, as agressões físicas, as humilhações, as ameaças e até o próprio extermínio do outro, que passou de adversário político a inimigo mortal.

Estão em risco os direitos mais básicos e essenciais da cidadania, o respeito à vida, aos direitos humanos e às liberdades individuais e coletivas, até então contidos nesta que é consagrada a "Constituição Cidadã". Agora, sob um falso apelo popular, tentam impor a descabida e extemporânea convocação de uma nova Assembleia Constituinte. São golpistas travestidos de democratas que flertam com o populismo autoritário e o fascismo mal disfarçado.

É o caso desse partido fisiologista de ultradireita que se anuncia para reunir todos os fanáticos e lunáticos em torno da família Bolsonaro e de seus milicianos de plantão. O nome - "Aliança pelo Brasil" - não poderia ser mais emblemático da tacanhez política, intelectual e ideológica do meme que virou presidente e de quem o alçou à condição de mito ou herói, salvador da pátria. Pura mitomania. Na prática, o que se vê é a involução do bolsonarismo para o boçalnarismo mais estúpido e cruel.

A institucionalização desta "Aliança pelo Brasil" (bálsamo para a escória que vibra a cada metáfora idiota de Bolsonaro sobre casamento, como Lula fazia com o futebol) remete à antiga Arena, sustentáculo da ditadura militar, e também a um tenebroso fundamentalismo religioso. Não é à toa que o novo partido se anuncia com o objetivo de "libertar a população da destruição de valores cristãos e morais" e se resume nos pilares da "fé, honestidade e família".

Este "PT da direita" já nasce governista e retrógrado, reproduzindo todos os erros e malfeitos que o Partido dos Trabalhadores cometeu para tentar se perpetuar no poder sem as qualidades do aprendizado na oposição e a história que a sua militância orgânica construiu durante décadas até fazer dele uma esperança concreta e objetiva de mudança. Depois, como se sabe, viria a frustração do eleitorado com as descobertas pela Lava Jato dos seus esquemas criminosos. Mas a gênese do bolsonarismo, ao contrário, é a completa desesperança e o desprezo pela democracia. Um horror.

O mínimo que se espera de cidadãos responsáveis, conscientes e civilizados é que se oponham às pautas golpistas e antidemocráticas que se amparam na radicalização do bolsonarismo. Trabalharemos pela união dos brasileiros que se identificam pelos mesmos princípios democráticos e republicanos, ao invés de se portarem como torcedores uniformizados ou, pior, como membros de gangues ou facções criminosas.

A primeira tarefa é listar pontos em comum para um pacto pela democracia e pela estabilidade política, social e econômica do país, reunindo lideranças progressistas e representantes de todos os espectros da sociedade, dos partidos de direita, esquerda e centro, dos movimentos cívicos, dos cidadãos e das instituições organizadas que tenham em comum a aversão a experiências autoritárias ou totalitárias e ao cerceamento de direitos e liberdades. Democracia sempre! Ditadura nunca mais!

Mauricio Huertas é jornalista, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do #Suprapartidário, idealizador do #CâmaraMan e apresentador do #ProgramaDiferente.