quinta-feira, 21 de maio de 2020

Dê um só motivo para o impeachment do Bolsonaro

Afinal, Jair Bolsonaro foi eleito democraticamente pela maioria dos brasileiros. Não se derruba presidente assim, por qualquer motivo. Participar de um movimento #ForaBolsonaro é desrespeitar o resultado das urnas. É fazer o jogo da oposição. É tentar desestabilizar o país. Será?

Ora, ora. Que país é esse que derrubou Fernando Collor e Dilma Rousseff, ambos legitimamente eleitos por ampla maioria dos eleitores brasileiros, e agora não pode denunciar, investigar e punir também os inúmeros crimes de responsabilidade que se sucedem no desgoverno deste presidente demente, inepto, irresponsável e desqualificado?

Ah, mas Collor e Dilma deram motivos! Vamos relembrar: Collor foi acusado de corrupção pelo seu próprio irmão, Pedro Collor de Mello, em matéria de capa da revista Veja, em 1992. O empresário Paulo César Farias, tesoureiro da campanha de Collor, foi a personalidade-chave do impeachment. A prova fatal: a perua Fiat Elba, comprada para a primeira-dama Rosane Collor, foi paga por um cheque decorrente do esquema de PC Farias.

O impeachment da Dilma teve início com a aceitação pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, inimigo declarado da presidente, de uma denúncia por crime de responsabilidade oferecida pelo procurador de justiça aposentado Hélio Bicudo e pelos advogados Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal, que ninguém botava muita fé. O motivo central: uma "pedalada fiscal".

Ou seja, presidentes caem no Brasil por participarem de esquemas ilegais de favorecimento, por improbidade administrativa, por desrespeito à Constituição. E do que Bolsonaro é acusado, então? Ah, vá! Tudo bobagem! Nada que se compare a uma Fiat Elba ou a pedaladas fiscais, com certeza! Vocês não querem comparar Bolsonaro com Collor e Dilma, né, por favor!?

Claro que não! Não tem comparação! Bolsonaro é acusado de quebra de decoro e de abuso de poder; de crime contra a saúde pública e de atentar contra a vida de brasileiros no meio de uma pandemia; de convocar e comparecer aos atos contra a democracia e pelo fechamento do Congresso e do STF; de interferir nas investigações da Polícia Federal no Rio de Janeiro.

Até de falsificar a assinatura do então ministro Sérgio Moro na exoneração de Maurício Valeixo do comando da PF ele é acusado. Sim, Bolsonaro foi fraudar e comprar briga logo com Sérgio Moro, o símbolo anti-corrupção que ajudou a afundar o PT, a eleger Bolsonaro e agora pode ajudar também a tirá-lo da Presidência, porque o ex-juiz acusou e comprovou alguns dos crimes de responsabilidade deste desgoverno, gravados na reunião ministerial de 22 de abril, o dia do descobrimento. Mas não é só isso.

Temos ainda Bolsonaro atentando contra a imprensa, o Congresso e o Supremo, convocando empresários para a 'guerra' contra governadores e prefeitos, bloqueando a compra de respiradores e outros equipamentos de saúde por estados e municípios, apoiando milícias paramilitares e incitando um golpe em defesa supostamente do povo brasileiro, entre outros atos, sandices e ataques recorrentes ao estado democrático de direito.

Ah, mas o impeachment não depende apenas de questões jurídicas, mas também políticas, econômicas, sociais - e agora até mesmo de saúde, em meio à quarentena e às mortes pelo coronavírus. Para afastar o presidente, precisa haver uma combinação de fatores e de interesses difusos, além obviamente de apoio suficiente no Congresso e efetiva mobilização popular. 

Sim, claro, sabemos disso tudo! Mas também no princípio dos movimentos pelo impeachment de Collor e Dilma, ou antes, de movimentos como as Diretas Já, foram poucos os que se reuniram convictos e, mesmo desacreditados pela maioria, sabiam estar fazendo a coisa certa e o melhor para o Brasil. Avançamos, construímos as condições para as mudanças, vencemos!

É o que deve nos mover agora e sempre, a defesa da justiça, dos nossos direitos e das nossas liberdades na construção de uma ampla frente democrática, envolvendo as pessoas, os partidos, os movimentos, as redes, toda a sociedade. Não podemos tolerar Bolsonaro. Não podemos nos acomodar diante do bolsonarismo. A razão e a lucidez precisam vencer o obscurantismo. A barbárie precisa ser derrotada pela civilidade. 

#ForaBolsonaro #ImpeachmentJá