sexta-feira, 15 de maio de 2020

Vamos dissecar um bolsonarista?

Que se faça logo a autópsia do bolsonarismo, este cadáver insepulto da nossa breve História; uma fraquejada da democracia que precisa ser rapidamente corrigida para voltarmos à vida.

Há dois anos, um terço do Brasil decidiu entregar a Presidência da República a Jair Bolsonaro (o que representou 55,13% dos votos válidos, ou 57,8 milhões de brasileiros).

O que inicialmente parecia uma piada de mau gosto para alguns se consumou em tragédia. E o meme virou presidente, por uma conjunção de fatores sobre os quais refletiremos a seguir.

Nem o rinoceronte Cacareco, o macaco Tião, “Meu nome é Enéas” e Tiririca, “pior que tá não fica”, foram tão longe. Quer dizer, ainda não tínhamos ido tão longe com o voto de protesto ou uma experiência sadomasoquista. E fica pior, dia a dia.

O estado democrático de direito está sob risco iminente. As instituições republicanas, ameaçadas. Nossas conquistas de décadas de lutas e de conscientização enfrentam um retrocesso inimaginável.

A ciência, a cultura, a educação, a saúde, o meio ambiente, os direitos humanos, as relações exteriores, as liberdades individuais e coletivas... O obscurantismo nos esfaqueia diariamente. O Brasil sangra.

Bolsonaro recebeu votos antipetistas, lavajatistas, direitistas, conservadores, reacionários, fundamentalistas, militaristas, armamentistas, antiesquerdistas, anticomunistas... Fora os lunáticos de plantão.

Foi o candidato que melhor encarnou o personagem antissistema e anti-establishment, apesar de estar no jogo há 30 anos como deputado medíocre e ter profissionalizado toda a família-problema nas tetas do Estado.

Excluídos os arrependidos, temos ainda aproximadamente um terço de brasileiros que se mostram ou se declaram bolsonaristas. Mas o que é o bolsonarismo, afinal? Podemos seccionar um bolsonarista para estudo?

O que leva alguém a se identificar com um sujeito tosco, inepto, grotesco, autoritário, despreparado, irresponsável, desqualificado, preconceituoso, machista, racista, misógino, homofóbico, repugnante?

Como apoiar um ser que se diz saudoso da ditadura, debocha da morte e do sofrimento de milhares de brasileiros, flerta com o fascismo e o nazismo, faz apologia da tortura e tem como ídolo declarado um torturador assassino?

Dá para relevar isso tudo em nome de uma suposta “simplicidade”, “autenticidade” ou “legitimidade”? Com atenuantes do tipo: “Ele é assim mesmo”. “Ele diz o que pensa”. “Pelo menos não é corrupto”. “Bolsonaro tem razão”. “E se fosse o PT?”.

Pois então. Não foi o PT, repetindo um governo que se apoiou na cleptocracia (ou propinocracia) para se manter no poder. Mas é outro na mão inversa, que se apóia na ideia do autogolpe, das milícias armadas e na sustentação pela mesmíssima base fisiológica, corrupta e criminosa.

Esta sim é a verdadeira ameaça de “venezuelização” do Brasil. Um tiranete populista no poder, com apoio de setores militares e uma elite retrógrada, pregando o fechamento do Congresso e do Supremo. Foi pra isso que vocês foram às redes, às ruas e às urnas? Deus me livre!