quinta-feira, 28 de maio de 2020

Flexibilização da quarentena em São Paulo privilegia a ciência, a economia ou a política?

Uma rápida olhada no mapa de reabertura do comércio e dos serviços no Estado de São Paulo deixa claro que o critério político pesou bastante na Capital.

Por que, afinal, os paulistanos seriam uma ilha privilegiada em toda a região metropolitana se aqui estão os maiores índices de contaminação e de mortes pelo coronavírus?

Faz algum sentido a cidade mais populosa e portanto de maior risco ter uma abertura antecipada às demais cidades da Grande São Paulo, do ABC e do litoral, por exemplo?

Pois, é. Pesou a pressão política de entidades como a Fiesp e as associações comerciais e de shopping centers. Além, é claro, do posicionamento do presidente Bolsonaro contra o isolamento social.

Também os vereadores paulistanos, obviamente sensíveis a essas pressões políticas e econômicas, principalmente em ano de reeleição, jogaram nas costas do prefeito Bruno Covas e do governador João Doria a responsabilidade pela antecipação.

Eis que as medidas de flexibilização da quarentena prevêem cinco etapas e dividem as regiões do estado por cores, de acordo com critérios definidos pela secretaria estadual da Saúde e pelo Comitê de Contingência do Coronavírus.

A capital paulista foi classificada como fase de controle laranja, de alerta, uma ilha no meio da zona vermelha, ou seja, será permitido reabrir, com restrições, a partir do dia 1º de junho:

- Atividades imobiliárias
- Escritórios
- Concessionárias
- Comércio
- Shopping Centers

Na Grande São Paulo e na Baixada Santista, entretanto, nenhuma medida de flexibilização é permitida ainda. E, cá entre nós, isso faz nenhum sentido.

Obviamente que é preciso retomar as atividades econômicas e a pressão realmente estava quase insustentável. Mas chamar de “inteligente” ou de “consciente” essa flexibilização chega a ser ofensivo à nossa inteligência e à nossa consciência.

Pois existem locais de maior aglomeração no mundo que um shopping center, uma rua de comércio popular ou o transporte público paulistano lotado no horário de pico?

Traduzindo: se o paulistano voltar às ruas e às atividades “normais”, como cobraram os setores empresariais e como concederam os atores políticos, corremos sérios riscos de fazer subir enormemente as tais curvas de óbitos e de contaminação. É o caos anunciado.

Fora isso, os prefeitos dos demais municípios estão pressionando para uma reabertura mais rápida, até porque realmente fica difícil de entender e concordar com o privilégio para a capital paulista.

Outra coisa: há uma diferença maior entre o mundo ideal e o mundo real. Grande parte das atividades pelos bairros paulistanos já tinha sido retomada informalmente, ainda que pela lei estivessem proibidas. Cabeleireiros e barbeiros, por exemplo, estão atendendo clientes com as portas fechadas.

A pressão aumenta dia a dia. Escolas, creches, academias, bares, restaurantes. Todos querem voltar a funcionar. E os clubes? E os parques? E as artes? Qual ciência vai prevalecer, afinal? A medicina, a economia ou a política? E qual será o resultado disso tudo? A que preço?