segunda-feira, 17 de maio de 2021

Teremos um prefeito à altura da cidade de São Paulo?


Se não bastasse a tragédia pessoal, familiar e humana da morte precoce de Bruno Covas - no auge da sua trajetória de vida - há consequências políticas e administrativas a curto, médio e longo prazo para São Paulo e para o Brasil.

Por ora, respeitaremos o luto e também não faremos nenhum pré-julgamento conclusivo do novo prefeito paulistano, Ricardo Nunes, até porque seria injusto. Mas não podemos ignorar o histórico do então vereador do MDB escolhido para vice nem abandonaremos a marcação cerrada sobre a gestão municipal.

Na campanha, Ricardo Nunes foi uma pedra no sapato da candidatura pela reeleição de Bruno Covas. Vereador de atuação discreta - senão obscura - no seu segundo mandato, foi alçado a companheiro de chapa do prefeito por uma complexa articulação política e partidária com vistas a 2020 e 2022.

O acordo envolvia não apenas a reeleição de Bruno Covas, mas o comando do vereador Milton Leite (DEM) sobre a Câmara Municipal, um agrado explícito à chamada bancada cristã e a vinculação, a partir de São Paulo, dos partidos da base governista (incluindo MDB, DEM e outras legendas da coligação) no projeto presidencial do governador João Doria.

Porém, o plano de vôo traçado por Doria em 2018 não é unanimidade nem entre os tucanos. Dentro do partido ele enfrenta a concorrência de outros dois presidenciáveis (Eduardo Leite e Tasso Jereissati) e a inimizade declarada de Aecio Neves, que apesar de ter a imagem abalada por vários escândalos preserva seu poder de fogo.

O DEM e o MDB são incógnitas para 2022 - e a morte de Covas aumenta essas indefinições partidárias. O cacique nacional do DEM, o baiano ACM Neto, está rompido com Doria e próximo do governo Bolsonaro. O MDB de Baleia Rossi e Temer faz acenos múltiplos - e agora herda a principal prefeitura do país para um mandato praticamente integral.

Como será a gestão de Ricardo Nunes? Nas suas primeiras declarações como prefeito ele promete manter não apenas o programa e os princípios da administração de Bruno Covas, mas até mesmo o secretariado. Quem conhece a máquina política, as relações partidárias e as pressões do Legislativo sabe que isso tudo é balela.

A estrutura comandada pelo novo prefeito junto com o presidente da Câmara, vereador Milton Leite, é gigantesca e poderosíssima. Em 2021 e 2022 a dupla dará as cartas na Prefeitura de São Paulo e, se permanecer aliada (ou não) ao governador João Doria, vai interferir nos destinos nacionais de seus partidos e nas chapas para a Presidência e para o Governo do Estado.

Resta saber como os cidadãos paulistanos vão reagir à cidade sob nova direção - e também os reflexos dessa mudança política, partidária e administrativa no humor do eleitorado paulista e na avaliação que farão do prefeito, do governador e até mesmo do presidente da República no decorrer dos próximos meses.

O município de São Paulo terá um período movimentado para testar essa integração entre o Executivo e o Legislativo, que estará azeitada. E veja a ironia do destino: é exatamente essa cumplicidade entre os dois poderes que deve preocupar a população, que verá facilmente aprovados uma polêmica revisão do plano diretor e uma série de projetos de intervenção urbana cruciais para o nosso futuro.

Quais interesses vão mover a política paulistana e paulista a partir de hoje? Quem vai mandar de fato no governo? Que mudanças a morte de Bruno Covas acarretará para os destinos da cidade? Que tipo de poder moderador e fiscalizador teremos sobre essa aliança política que existe entre Ricardo Nunes, Milton Leite e a maioria da Câmara Municipal? Olho neles!