segunda-feira, 31 de maio de 2021

Uma conversinha com o prefeito de São Paulo


Um ano atrás, talvez nem o próprio Ricardo Nunes apostasse que hoje ele seria o prefeito de São Paulo. A escolha do vice de Bruno Covas foi um árduo trabalho de arquitetura político-partidária, um quebra-cabeças que buscou atender a inúmeros interesses dos diversos atores envolvidos nas eleições.

A gravíssima doença - que culminaria com a trágica morte - do jovem prefeito paulistano que aos 40 anos de idade já concorria à reeleição fez desta estratégica vaga do vice um espaço ainda mais cobiçado que o normal na política nacional, que tem tradição nessa dança das cadeiras.

Assim como Geraldo Alckmin substituiu o avô de Bruno, o então governador Mario Covas, quando ele também precisou se afastar do cargo por causa de um câncer, ou vices como Itamar Franco e Michel Temer se tornaram presidentes após o impeachment de Collor e Dilma, ser vice no Brasil nem sempre significa ter um papel secundário ou figurativo.

Mas assumir a titularidade da maior prefeitura do país no quinto mês da gestão, tendo ainda três anos e sete meses de mandato pela frente, é realmente inédito e desafiador. Ainda mais para um discreto vereador de apenas duas legislaturas, sem nenhuma característica especial no perfil que lhe projetasse como vocacionado para ser prefeito.

Quis o destino, porém, que Ricardo Nunes assumisse a Prefeitura - e agora ele é quem de fato comanda a administração da cidade, agradando ou não aos eleitores de Bruno Covas, Guilherme Boulos, Márcio França, Celso Russomanno, Arthur do Val, Jilmar Tatto, Joice Hasselmann, qualquer outro candidato de 2020 ou mesmo nenhum deles.

Pois então, prefeito Ricardo Nunes, esperamos que você honre o cargo para o qual foi eleito, ainda que indiretamente, mas de forma democrática e seguindo as regras do sistema eleitoral brasileiro, na coligação que colocou o seu MDB como legítimo herdeiro do mandato que estava nas mãos do PSDB.

Diz o prefeito que dará continuidade à gestão Covas. Sabemos que na prática as coisas não funcionam assim de modo tão simples e linear, mas que lhe seja dado o benefício da dúvida para mostrar a que veio. Não faltarão testes (e cascas de banana) pelo caminho, a começar pela relação com a Câmara Municipal de São Paulo, que põe à prova todos os limites e preceitos republicanos.

Ricardo Nunes, meu caro, desempenhe as suas funções com ética, probidade, responsabilidade, compromisso público, respeito ao voto popular, sensibilidade, equilíbrio e senso de justiça. Cuide bem da cidade, tenha empatia com a diversidade, a pluralidade e a multiplicidade dos paulistanos.

Exerça o poder executivo de forma independente e harmônica com o legislativo e o judiciário, mas jamais de maneira impositiva nem, ao contrário, submissa. Ouça, veja, converse, reflita, ande pelos bairros. Cumpra as metas estabelecidas em conjunto com a população.

Sabemos que tudo é prioritário e urgente numa metrópole do tamanho de São Paulo, ainda mais em plena pandemia, mas não vire as costas para os mais carentes, não privilegie os mais abastados ou aqueles que tenham o lobby mais forte na política local. Seja isento, imparcial, humano.

Atenda as justas reivindicações nas áreas sociais, sem abandonar a responsabilidade fiscal. Atue em habitação, transporte, saúde, educação, segurança, infraestrutura, obras, serviços, zeladoria, mas não abandone os direitos mais essenciais da cidadania, a sustentabilidade e a qualidade de vida.

São Paulo não vai parar de crescer, mas precisa de planejamento, ordem, respeito à legislação ambiental e urbanística - inclusive os pontos que serão revisados, como no plano diretor. Razão e emoção. A racionalidade que se exige de um gestor público com o amor que não pode faltar a quem se propõe a ser o prefeito de mais de 12 milhões de paulistanos. Boa sorte, bom trabalho e que comece o jogo.