quinta-feira, 19 de agosto de 2021

O erro de quem busca uma opção de centro (ou a tal 3ª via) para combater a polarização: ainda não entenderam que o inimigo é Bolsonaro


Quem tudo quer, tudo perde. Ou quem tudo quer nada tem. Escolha a variante do ditado que preferir, ou pense em outros provérbios, assim como escolheremos o nosso candidato a presidente em 2022. E - aviso aos navegantes - teremos eleições, queiram ou não os fanáticos, lunáticos, negacionistas, bolsonaristas e golpistas em geral.

A sabedoria popular nos ensina muito. Vale como exemplo - apesar de não estarmos reduzidos a essas duas máximas, é claro! Pois a reflexão que trazemos hoje é exatamente esta: parece que temos duas candidaturas consolidadas (Lula e Bolsonaro), enquanto todos os demais pré-candidatos querem se colocar como alternativas da 3ª via. (Quem tudo quer…)

Em 2018, a diversidade de presidenciáveis se mostrou ineficaz e comprovou a falta de sensibilidade dos partidos e principais atores políticos para traduzir o desejo do eleitorado. Um erro estratégico. Apesar das inúmeras opções lançadas pelo tal “centro democrático”, as eleições ficaram polarizadas - como sempre. Normalmente o eleitor não se identifica com ninguém de centro, prefere escolher entre dois pólos.

Petismo e antipetismo deram a tônica da última eleição presidencial. Aliás, desde a redemocratização, é o PT quem polariza nacionalmente (primeiro com Collor, em 1989; depois com os tucanos, derrotado por FHC em 1994 e 1998; e vitorioso contra Serra em 2002, Alckmin em 2006, Serra outra vez em 2010, e Aécio em 2014).

No pior momento do PT - com Lula preso e o partido destroçado pela Lava Jato - a polarização se deu com Jair Bolsonaro. O meme que virou presidente por acidente estava no lugar certo, na hora certa. Vestiu o figurino antipetista, forjou a narrativa anticorrupção, vitimizou-se com o episódio nebuloso da facada, fugiu de todos os debates e ganhou fácil (com a tal 3ª via fragmentada e reduzida a pó).

Hoje a única expectativa de Bolsonaro para se manter no poder é ameaçar com um autogolpe, armar suas milícias, atacar as instituições, inventar uma improvável fraude nas eleições, desacreditar a política e a democracia. Dentro das quatro linhas - como ele mesmo gosta de mencionar - vai perder de goleada (de qualquer um). Resta apelar ao tapetão, à invasão do campo, ao quebra-quebra da torcida.

Voltamos ao cenário mais provável para 2022. De um lado, Lula e o PT vem forte. Tem lugar cativo no 2º turno (isso se não vencer já no 1º). Do outro lado, Bolsonaro ainda é o mais viável contraponto ao PT (e vai acentuar isso nas suas bolhas, com o discurso desvairado contra comunistas reais e imaginários). Nesse contexto, resta um espaço muito reduzido para a construção da 3ª via.

A aposta dos “nem, nem” (nem Lula, nem Bolsonaro) é emplacar do nada um candidato que cresça, apareça se viabilize nos próximos seis meses. Parece uma tarefa cada vez mais improvável e impossível, dado o tempo exíguo, o congestionamento de nomes (nenhum com destaque e consenso) e a completa dissociação do desejo manifestado pelo eleitorado (por enquanto nas pesquisas, mas historicamente nas eleições).

Se não houver um impeachment (e a consequente inelegibilidade do presidente), quem destronaria Bolsonaro do 2º turno contra Lula (ou, em qualquer eventualidade, contra quem o PT indicar)? Esse é o reduzido espaço a ser disputado, embora esteja cada vez mais consolidado que a eleição de 2022 será movida pelo tira-teima entre o bolsonarismo e o antibolsonarismo.

A maioria do eleitorado não vai buscar o “nem, nem” - isso que os estrategistas do chamado “campo democrático” custam a entender. O voto majoritário será no candidato que melhor se posicionar contra Bolsonaro e seu desgoverno inepto, canalha, criminoso, golpista, obscurantista, genocida.

Ninguém quer um isentão. Não tem voto morno. É quente ou frio. Na comparação entre o bom, o mais ou menos, o ruim e o pior, o brasileiro fará a sua escolha. A rejeição a Bolsonaro é que vai eleger o próximo presidente. Simples assim.