quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Em defesa do Parque da Mooca: Mais uma vez fazemos um alerta para a preservação do último grande espaço verde disponível no centro expandido de São Paulo


Você acha justo a Prefeitura e a Câmara Municipal de São Paulo abrirem mão de áreas públicas essenciais e valiosíssimas para serem concedidas à iniciativa privada e, em contrapartida, autorizarem que o poder público pague caro para compensar essa má gestão, além de oferecerem um pacotão de privilégios para empresas aumentarem seus lucros enquanto a maioria da população segue prejudicada?

Pois é isso o que ocorre na maioria das intervenções e operações urbanas aprovadas pelos vereadores. Ao mercado imobiliário, tudo! À sustentabilidade, à qualidade de vida, à moradia de interesse social, à preservação da história dos bairros paulistanos e às justas reivindicações da comunidade, quase nada!

Nesta semana aconteceu mais uma audiência pública da Operação Urbana Bairros do Tamanduateí, que afetará toda a região do Ipiranga, Mooca, Vila Prudente, Cambuci e Vila Carioca - incluindo a divisa da capital com os municípios do ABC paulista, os bairros e distritos em torno do rio e da linha férrea.

Este projeto se arrasta desde a época do prefeito Fernando Haddad, há mais de seis anos, e agora, modificado, desatualizado e pouco debatido, volta à Câmara com a intenção de ser aprovado a toque de caixa. Um detalhe inusitado: ele será deficitário e ineficaz. Oferece à iniciativa privada mais vantagens do que terá de retorno para atender a população. Faz sentido?

Tem números defasados, não leva em conta o crescimento disparado de submoradias, cortiços e favelas, muito menos da população de rua; desconsidera que a região agrega alguns dos bairros com menor índice de áreas verdes por habitante, tem ilhas de calor e poluição com trânsito já caótico; e que, em curtíssimo prazo, se aprovada a nova lei, será superpovoado e terá a sua população triplicada - com os problemas obviamente aumentando na mesma proporção insustentável.

Quer um exemplo concreto e objetivo da prioridade da administração municipal aos interesses privados em detrimento da maioria da população? Estava prevista a implantação do Parque Porto de Areia na região. Pois agora o projeto foi todo modificado para ceder essa área à empresa MRS Logística, enquanto a Prefeitura pagará caro para adquirir e revitalizar outros terrenos piores a título de compensação ambiental (que também, de forma canalha, são contabilizadas inclusive quando têm acesso restrito apenas aos moradores de alguns condomínios particulares).

É também o caso da área ocupada (e contaminada) durante décadas pela empresa Esso, de combustíveis e produtos químicos. São quase 100 mil metros quadrados de um espaço que pode e deve ser transformado em parque na Mooca, como reivindica há anos, com justiça, a comunidade. Trata-se da última oportunidade de preservar um espaço verde deste tamanho e importância em todo o centro expandido da capital e que vai trazer benefícios para toda a região metropolitana.

O que a Prefeitura pretende fazer nessa área do Parque da Mooca? Instalar uma série de torres de condomínios num empreendimento de alto padrão (com algumas poucas unidades destinadas a programas de habitação para a classe média), introduzindo dezenas de milhares de famílias, formando um novo polo gerador de tráfego gigantesco e uma ilha ainda maior de calor e de concreto neste que poderia ser o pulmão verde da região (mas o projeto garante cerca de um terço apenas do terreno preservado, anulando seus benefícios ambientais e dificultando o acesso das pessoas às áreas que deveriam ser públicas).

A nossa preocupação não é ingênua, só com a flora e a fauna, com aves e árvores - como se isso tivesse menos valor. Mas é também com o clima e todas as graves mudanças que vem ocorrendo no mundo, com a temperatura descontrolada, com as enchentes, com a saúde física e mental das pessoas, com a vida de cada cidadão paulistano. Será pouca coisa para o prefeito e os vereadores ou podemos esperar algo de positivo e transformador? Vamos acompanhar.