segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Entra semana, sai semana e o verde vai se acabando… Cadê o prefeito e os vereadores?


Reformaram o Vale do Anhangabaú, símbolo de São Paulo, e o resultado foi concreto para todo lado. Muita gente viu e chiou, mas a Prefeitura nem se incomodou. Acabaram com todo o verde do local e pronto. Em pleno 2021 ainda tem gestor público com pensamento arcaico achando que progresso é sinônimo de grandes obras e de uma cidade cinzenta.

Isso acontece todo dia e em todo lugar. No país do “OGROnegócio”, do desmatamento criminoso, dos incêndios florestais, das ocupações ilegais, do marco temporal para acabar com terras indígenas, da boiada bolsonarista que segue o toque de berrante do presidente demente para atropelar a legislação ambiental. E na maior cidade do país não seria diferente.

Nós aqui insistimos com frequência nesse tema da sustentabilidade, na esperança de despertar o poder público para alguma ação efetiva. Mas episódios como um projeto de moradia no lugar da Horta das Flores, ou a ampliação da rua Lítio (que pode acabar com uma praça tradicional e habitat de aves) para beneficiar um único projeto imobiliário de alto padrão - ambos coincidentemente na Mooca, aonde o subprefeito caiu (dizem) por incompetência - dão um desânimo danado.

Seguimos na luta e trazemos outros casos e alertas de maneira recorrente. A Operação Urbana “Bairros do Tamanduateí”, por exemplo, que abrange a região do Ipiranga, Mooca e Vila Prudente, exigirá outro tipo de atenção do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Ali, já se sabe, há necessidade de revitalizar áreas degradadas como a avenida Presidente Wilson e toda a circunvizinhança do rio e da linha férrea.

Porém, uma exigência inegociável da população local é a implantação de um parque na Mooca, na totalidade da área que por muitas décadas foi ocupada e contaminada pela Esso, em vez de usar para moradia este que é um dos últimos espaços disponíveis para a preservação do verde na região central. Um pouquinho de bom senso e sustentabilidade não fazem mal a ninguém, não é mesmo?

Também as medidas de adensamento populacional são questionáveis, em bairros com trânsito já caótico, poluição letal e carência de infra-estrutura. Por outro lado, é possível revitalizar esses bairros de histórico industrial (hoje com imóveis, antigas fábricas e enormes galpões abandonados) e torná-los tão atraentes e convidativos ao comércio, aos serviços e ao entretenimento como acontece nas cidades mais modernas do mundo.

Portanto, prefeito Ricardo Nunes, vereadores situacionistas e oposicionistas, grande imprensa e mídia regional, associações de bairros, movimentos de moradia e ambientais, conselhos de moradores e organizações comunitárias em geral: está dado o recado! Outra vez! Com ou sem pandemia, vamos ficar de olho nas ações da Câmara e da Prefeitura para cobrar que sejam atendidas as reivindicações da população.

O que os moradores querem, que é justo, coerente e necessário, ficou bem claro nas audiências públicas, no plano de metas e nos projetos encaminhados na Câmara por pressão da comunidade (e os interesses da maioria não estão ainda atendidos nessas operações urbanas). Pois então vamos conciliar o que vai trazer benefícios para todos (não privilégios para alguns) antes de aprovar este projeto para evitar dissabores e ações judiciais, OK?

Aonde já se viu você ceder terrenos públicos, que beneficiam TODA a população, à iniciativa privada para privilegiar uns poucos em prejuízo da coletividade? Pois é um escândalo que está na imprensa e já citamos aqui: a Prefeitura de São Paulo quer acabar com áreas públicas na Mooca como a Horta das Flores e a Feira Confinada para ceder esses enormes terrenos à exploração imobiliária.

A narrativa é sempre nobre. Dizem que parte desses milhares de novos imóveis será destinada à “moradia popular” e vendida a famílias de baixa renda (veja bem: não é casa para a população de rua, sem teto, mas para quem ganha mais de três salários mínimos). Isso é a justificativa fake para acabar com esses espaços de uso coletivo e entregar de mão beijada à iniciativa privada.

Pois há todos os motivos do mundo para essa cessão de áreas públicas NÃO ACONTECER! O Ministério Público tentou barrar na Justiça, mas a liminar já foi derrubada em benefício da exploração imobiliária - sempre forte e poderosa na cidade. Aonde estão a Câmara Municipal e a Prefeitura enquanto são cometidos esses crimes administrativos, urbanos e ambientais que lesam a cidade?

Se o prefeito, seus secretários, administradores regionais, os vereadores e até a juíza que derrubou a liminar fossem minimamente informados e bem intencionados, saberiam que a Mooca é um dos bairros com menor índice de área verde por habitante e que preservar esses raríssimos espaços com projetos comunitários, como a Horta das Flores, a Praça Dr. Eulógio Emílio Martinez e o futuro Parque no antigo terreno contaminado da Esso (todos ameaçados nesta gestão) deveria ser prioridade absoluta e garantia de saúde e qualidade de vida.

Mas parece que político só se satisfaz mesmo quando põe a mão para estragar qualquer iniciativa ou conquista pública - e ainda tenta faturar alguma coisa em cima. Querem fazer moradia popular na Mooca? Façam no lugar certo, não destruindo o pouco que existe de natureza e de vida. Progresso é garantir o futuro, jamais destruir o passado e o presente.