domingo, 26 de setembro de 2021

Vale-tudo na TV, na Igreja e na Fazenda do Edir Macedo sob o patrocínio do bolsonarismo


A história mostra que vale chutar a imagem da Nossa Senhora, vale passar a sacolinha para explorar a miséria alheia (se bem que tudo ficou mais moderno na era do Pix), vale apoiar qualquer político no cargo (de Lula a Bolsonaro), vale ter um partido para chamar de seu, uma bancada para lhe servir e uma TV (concessão pública) como arma de guerra, sustentada por patrocínio estatal, empresas cúmplices e o suado dízimo dos fiéis.

A vida do ex-presidiário Edir Macedo daria um filme (aliás, já deu dois, péssimos e bajuladores, ambos financiados por ele mesmo - e em última instância pagos por nós, é claro). Mas nem vale a pena chafurdar nesse lamaçal - a não ser para falar dos crimes, como o uso ilegal de recursos públicos, a perseguição religiosa, a recorrente propaganda eleitoral extemporânea e agora a acusação de estupro de vulnerável no programa A Fazenda.

Não me interessa pessoalmente a programação que reúne de consultório sentimental ao picadeiro de Celso Russomanno e outros clones em série eleitos “xerifes do consumidor”, de exorcismo libertador a sorteios caça-níqueis autorizados pelo atual desgoverno do presidente demente (em troca dos métodos nazistas de propaganda política). Porém, a coisa muda de figura quando a Record deixa de apenas exibir e reverenciar para virar ela própria o caso de polícia.

“Quando uma mulher diz não, é não!”, explica de forma didática a apresentadora Adriane Galisteu, com um semblante ao ler o teleprompter que varia entre o dramático-demagógico e o 100% canastrão. E complementa: “Quando uma mulher alcoolizada diz sim, também é não!”.

Seria uma informação relevante em qualquer outro contexto, menos para justificar a expulsão do participante Nego do Borel por ter trocado carícias íntimas com uma colega bêbada no reality show de horrores que a emissora produz em sua 13ª temporada.

Pô, mas a Record não é a TV da tradicional família brasileira, das pessoas de bem e com sólida formação cristã, recomendada até pelo presidente Bolsonaro, por sua santa esposa e pelos filhinhos que são orgulho do papai-mito em suas bolhas de fanáticos ideológicos, lunáticos e sociopatas?

Basta ver os critérios de seleção para A Fazenda: no rol de subcelebridades mais escandalosas e surtadas, são escolhidas a dedo aquelas que prometem render mais audiência à TV do Bispo. Daí que Nego do Borel foi selecionado exatamente por estrelar sites e programas de fofoca depois de ter sido acusado de violência, agressão e relação abusiva pela ex-mulher e por outras ex-namoradas.

Botam gente que já é sabidamente problemática e desequilibrada no confinamento exibido 24 horas, regado a muito álcool e com situações que levam os participantes ao limite físico e psicológico. A direção do programa assistiu e exibiu as tais cenas que em tese configuram o estupro. Não fez nada para impedir. E o único culpado é o otário que se julgava machão em rede nacional?

É muita demagogia, hipocrisia e canalhice. Pior: é crime! A Record é criminosa. Os patrocinadores são cúmplices e a audiência omissa se satisfaz como voyeur de toda essa exploração condenável. Vamos dar os nomes dos principais patrocinadores de A Fazenda: TikTok, Americanas, Banco Original, Seda, Aurora e Brahma.

Vocês acham mesmo que cumpriram com o dever legal e moral ao pressionar a Record para eliminar Nego do Borel do programa e ser investigado pela polícia? Ora, ora… E quanto a Edir Macedo, Jair Bolsonaro e toda essa corja que vocês bancam? Contra esses aí não cabe nem investigação, nem eliminação? Em qual planeta vocês vivem?