quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Se dinheiro desse em árvore, político se interessaria na pauta ambiental


Ontem foi o Dia da Árvore (que já virou uma lembrança nostálgica dos livros escolares), hoje é o início da primavera e os vereadores paulistanos devem discutir e aprovar nesta quarta-feira, em 1ª votação, o Projeto de Lei 391/2021, do prefeito Ricardo Nunes, que, em tese, “disciplina a arborização urbana quanto ao seu manejo, visando a conservação e a preservação”.

Na prática, sabemos que não é bem assim. Numa cidade em que as árvores são vistas como estorvo por grande parte da população, pela queda devido à má conservação, por obstruírem a iluminação de postes, a visibilidade de placas de sinalização e de fachadas de lojas, destruírem calçadas e causarem sujeira com a queda de folhas ou até mesmo por atraírem visitantes indesejados como pássaros e insetos, a Prefeitura vai dar um jeitinho para facilitar a remoção desse “incômodo” em terrenos públicos e privados.

Principalmente em imóveis particulares, a vida vai ficar bem mais fácil para os exterminadores do verde. Nada que surpreenda aonde quem dá as cartas são os donos do mercado imobiliário (e também financiadores da eleição do prefeito e de vereadores), que pagam caro para jogar concreto e erguer prédios no lugar em que ambientalistas ficam com esse mimimi de sustentabilidade e de preservação da flora e da fauna. O progresso é cinza! Sai pra lá, esquerdalha!

Realmente é difícil convencer maus políticos e maus empresários, interessados em ganhar muito dinheiro e tudo muito rápido, que o planejamento de uma cidade sustentável, inteligente, com a preservação do meio ambiente e a preocupação com a qualidade de vida e com as futuras gerações deva ser prioridade da gestão. Quem quer pensar em jardins, praças, parques, solo permeável e ruas arborizadas se o interesse maior é o lucro imediato com a exploração do mobiliário urbano e dos lançamentos imobiliários (vide a quantidade de loteamentos irregulares), não é mesmo?

Pois seguiremos na luta inglória pelo verde e pela vida, denunciando os abusos cometidos na remoção de árvores e na poda ilegal ou equivocada. Seria melhor se houvesse apoio da legislação e dos gestores municipais, mas quem sabe se um dia eles não percebem como tudo isso influi nas enchentes, no clima, na qualidade do ar e na saúde de cada cidadão? Quem sabe se os eleitores também não começam a cobrar mais responsabilidade e consciência dos políticos. Quem sabe…