segunda-feira, 29 de março de 2021

A busca por um candidato único do tal “centro democrático”, que enfrente a polarização Lula x Bolsonaro, é uma ilusão?


Nem Lula, nem Bolsonaro. É quase um mantra que se ouve por aí. Na prática, em todas as projeções para 2022, o Brasil segue mais ou menos dividido em três: um terço bolsonarista, um terço lulista e, por fim, um terço “nem, nem” (porém, com voto fragmentado).

Bolsonaro parece estar se dissolvendo nas próprias mentiras, irresponsabilidades e incompetências, mas ainda é um nome forte para estar no 2º turno de 2022, obviamente. A crescente rejeição ao presidente demente e genocida associada com a reabilitação jurídico-política de Lula vão mantendo acesa a polarização.

Partidários do “nem, nem” reclamam deste hegemonismo petista no contraponto ao bolsonarismo. Alegam que é chegada a hora de o PT abrir mão dessa cadeira praticamente cativa no 2º turno, pois de fato a polarização Bolsonaro x Lula se retroalimenta e acaba beneficiando somente a ambos, enquanto sufoca as opções de centro e desune a oposição.

É verdade, mas qual partido e/ou candidato não quer sentar na janelinha? Como dizer que Lula (ou Hadad) e o PT, Ciro e o PDT, Doria (ou Eduardo Leite) e o PSDB, Boulos e o PSOL, Huck, Moro, Mandetta, Luiza Trajano ou quaisquer outros potenciais candidatos e seus respectivos partidos não estejam certos em desejar o protagonismo político e eleitoral?

Quem, verdadeiramente, pensa mais no coletivo do que em si próprio na hora de buscar o voto? Diz o ditado: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. Vale a lei da sobrevivência para todas as legendas no atual sistema político, partidário e eleitoral brasileiro. Sem uma profunda e necessária reforma estrutural que fortaleça nossa democracia, vai ser sempre cada um por si (e todos contra a razão e o bom senso).

Dentre todos os possíveis candidatos para 2022, quem teria o altruísmo de abrir mão para um concorrente com mais chances? Dos nomes cogitados para a sucessão de Bolsonaro (embora o próprio já se coloque como candidato à reeleição e deixe no ar a ameaça golpista de se perpetuar no poder a qualquer custo), quem afinal teria mais chances de vencer nas urnas?

Ainda daria tempo de surgir uma terceira via? Como se busca essa unidade? Mas será que todos se uniriam de fato em torno de Ciro, ou Doria, ou Huck, ou Moro, ou Mandetta, ou Trajano, ou seja lá qual fosse a candidatura única das oposições? E mesmo que isso seja possível (embora improvável), quem garante que uma frente ampla dessas daria liga?

Talvez falte coragem e coerência para nossos representantes e mandatários, ou mesmo legitimidade para nossas lideranças dizerem publicamente o óbvio: todo cidadão civilizado, democrata, racional, tem um inimigo em comum. O mal maior do Brasil é Bolsonaro.

Portanto, todas as nossas divergências ou antipatias e aversões pessoais com Lula, Ciro, Doria, Huck, Moro etc. e até mesmo as mais profundas diferenças conceituais, éticas, ideológicas podem ser resolvidas dentro do campo político e jurídico, enquanto com Bolsonaro nossas incompatibilidades estão na esfera civilizatória, existencial, humana.

É preciso dizer sem rodeios: todos deveríamos trabalhar sinceramente por uma alternativa viável, concreta e objetiva às candidaturas de Lula e Bolsonaro, porque isso seria - pelos mais variados motivos e sob quaisquer pontos de vista - o melhor para o Brasil.

Porém, apesar de todo o antipetismo que possa existir após os quatro mandatos presidenciais de Lula e Dilma - e motivos não faltaram para o convencimento da população depois de tantos escândalos revelados - é preciso reafirmar que ninguém (nem o PT) deve ser excluído da nossa missão maior que é derrotar o bolsonarismo.

São dois terços do eleitorado - a parcela civilizada da sociedade - contra Bolsonaro. Não é possível que não tenhamos a competência de defender o estado democrático de direito e vencer este canalha negacionista e obscurantista que se apoderou do Brasil.

Então, atualizando as prioridades neste momento catastrófico da pandemia: primeiro vamos combater o vírus e este verme, na vacina e no voto, depois arrumamos a casa e resolvemos as nossas diferenças na política, dentro das regras constitucionais e republicanas. Reage, Brasil!