quarta-feira, 2 de junho de 2021

A falácia da 3ª via contra Bolsonaro e Lula; o “nem, nem” é ficção


Em tese, segundo as sondagens de intenção de voto para 2022, metade do eleitorado brasileiro procura uma opção “nem, nem” para a Presidência da República: nem Bolsonaro, nem Lula. O Brasil estaria, assim, em busca de uma 3ª via.

Digamos que o espaço a ser ocupado por uma candidatura alternativa à polarização possa de fato ser estimado em aproximadamente um terço dos votos válidos (numa divisão genérica, conta feita em papel de pão), onde os outros dois terços sejam disputados por Lula e Bolsonaro.

Para ter sucesso, esta desejada candidatura do denominado “centro” (não confundir com o Centrão, por favor), ou do “polo democrático”, que pretende se beneficiar igualmente do antipetismo e do antibolsonarismo, precisaria reunir a preferência do eleitor sem fragmentar demais esse voto “nem, nem”. Missão quase impossível.

Afinal, quem uniria hoje os diversos interesses em jogo e as várias correntes centristas, cada qual com a sua ideia de pré-candidato ideal? Nomes cogitados não faltam: Ciro, Huck, Moro, Doria, Eduardo Leite, Tasso, Mandetta, Amoedo, Dino, Zema, Kalil, Maia, Pacheco, Temer, Randolfe, Luiza Trajano, Danilo Gentili... Nenhum passou de “fanfic”.

Dos políticos mais tradicionais às opções consideradas “outsiders”, de candidatos testados em outras eleições a praticamente anticandidatos, cotados para atrair o voto de protesto, já se pensou de tudo um pouco, embora ninguém chegue nem perto do consenso sobre a construção mais viável para quebrar a polarização.

É da cultura do brasileiro o raciocínio binário, o Fla x Flu, o sim ou não. Na política não seria diferente: o confronto ideológico esquerda x direita, o julgamento moral do certo x errado. Desde Arena x MDB, na redemocratização, as Diretas Já, o Tancredo x Maluf, as eleições de 1989 (Collor x Lula), depois PT x PSDB se repetindo em 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014.

Isso até Bolsonaro se apossar do antipetismo em 2018, mas não para quebrar a polarização, apenas para reforçar esse embate permanente. Diga-se de passagem, aliás, que também entre os defensores de uma candidatura da 3ª via há, na verdade, preferência por um dos lados. A escolha do mal menor (e eu dou logo o meu palpite: não existe nada pior que Bolsonaro).

Todos os presidenciáveis que já tentaram romper os dois polos fracassaram: Brizola, Ulysses, Ciro, Quercia, Garotinho, Marina, Cristovam, Heloisa Helena, Eduardo Jorge, Luciana Genro, Eneas. Teve de tudo! Mas no fundo segue o eterno confronto entre um lado e outro. Os 50 tons de cinza entre o preto e o branco.

Enfim, qual a chance dessa estratégia centrista antipolarização ter sucesso em 2022? Na eleição passada, auge do antipetismo (com Lula preso, inclusive), muito se apostou em Ciro, Alckmin, Marina, Henrique Meirelles, Álvaro Dias, Amoedo. Todos fracassaram. Não chegaram nem perto de incomodar Bolsonaro x Haddad.

E agora? Quem pode ameaçar Bolsonaro x Lula? Os nomes mais promissores parecem ter desistido por questões pessoais: Huck e Moro. Ciro está aí outra vez (depois de 1998, 2002 e 2018). No PSDB, o “tiro amigo” tenta abater Doria e lançar o governador gaúcho, Eduardo Leite, um ilustre desconhecido. Tucanos sendo tucanos. É fogo no ninho!

De resto (citamos vários potenciais candidatos acima), nenhum parece empolgar ou despontar como aglutinador das forças antipetistas e antibolsonaristas. Todo o contexto favorece a polarização. Não basta ao “nem, nem” negar Lula e Bolsonaro. É preciso mostrar quem deve ser o presidente. Eis o problema sem solução.