terça-feira, 8 de junho de 2021

A turma do “nem, nem” só esquece do “nem, nem, nem” e insiste no nhenhenhém


Calma, eu explico! (rs) Estamos falando, outra vez, dessa busca incansável por um candidato a presidente em 2022 que tenha alguma viabilidade e capacidade para quebrar a polarização que já se anuncia forte entre Bolsonaro e Lula.

Desde 1989, vivemos uma espécie de “dia da marmota” que se repete infinitamente, como no icônico filme Feitiço do Tempo, onde o repórter de meteorologia Phil, interpretado brilhantemente por Bill Murray, dorme e acorda neste mesmo dia até que se convença a mudar definitivamente as suas atitudes.

Pois a tal 3ª via é tentada sem sucesso desde a primeira eleição presidencial direta da redemocratização, em 1989. Guardadas as proporções, entre idas e vindas, além de características partidárias e temporais dessas três décadas, a eventual disputa Bolsonaro x Lula parece repetição do “dia da marmota” daquele 2º turno perdido no tempo, Collor x Lula.

Nessas oito eleições presidenciais desde 1989, a polarização esteve presente. Direita x esquerda, progressistas x conservadores, vermelho x azul. Varia a adjetivação da disputa, a resenha da época, mas a essência, a substância é a mesma. A velha política (no pior sentido do termo) segue dando as cartas.

A repetição mais marcante é a invariável presença do PT na disputa polarizada. Lula em 1989, 1994, 1998, 2002, 2006 e agora novamente em 2022, ou as criaturas lulistas (chamadas até, pejorativamente, de “postes” de Lula), Dilma em 2010 e 2014, e Haddad em 2018.

Do outro lado, além de Collor (1989), já tivemos FHC (1994 e 1998), Serra (2002 e 2010), Alckmin (2006 e 2018), Aécio (2014) e, finalmente, Bolsonaro, que em 2018 “roubou” um dos pólos dos tucanos, resgatando o legado da direita mais boçal, e empurrou o PSDB de volta ao espaço original da 3ª via.

O intervalo entre a Era Collor e a Era Bolsonaro teve algo em comum, além do lugar cativo do PT nessa polarização típica da política brasileira. Foi a onipresença do Centrão, tradicional agrupamento de políticos corruptos e fisiológicos, sempre ao lado do vencedor.

Essa corja que largou a ditadura para apoiar a chapa Tancredo e Sarney na redemocratização foi pulando de galho em galho nos últimos 30 anos, sempre com sede de poder. E assim, no vale-tudo, governou com Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro.

Aliás, é característica do Centrão ser governo (loteando cargos e esbulhando orçamentos) e derrubar presidentes. Foram decisivos tanto para o fim da ditadura quanto para o impeachment de Collor e Dilma - e agora são imprescindíveis para a sustentação (ou o fim) do bolsonarismo.

Perceba, eleitor, a abissal diferença que há entre o Centrão e o centro ideológico e democrático propriamente dito, que é de onde a tal 3ª via seria construída (se partidos e políticos tradicionais conseguirem mudar sinceramente suas atitudes para escapar do dia da marmota no feitiço do tempo).

A 3ª via fracassa desde 1989, quando Covas e Ulysses, por exemplo, tiveram votações pífias e o mais próximo de quebrar a polarização foi Brizola. Depois vieram Quercia e Enéas (1994), Ciro (1998 e 2002), Garotinho (2002), Heloísa Helena e Cristovam Buarque (2006), Marina Silva (2010 e 2014), e em 2018 novamente Ciro, e Marina, e Alckmin, e… Todos fadados à derrota.

Chegamos às vésperas de 2022 com muita gente disposta a quebrar esta sina. Fala-se em Huck, Moro, Ciro, Doria, Tasso, Leite, Mandetta, Dino, Randolfe, Amoedo, Luiza Trajano, Danilo Gentilli - todas opções consideradas para a tal 3ª via contra Bolsonaro e Lula.

Porém, o desafio maior, além de encontrar nomes dispostos e com alguma viabilidade para enfrentar essa história de sucessivos fracassos, é garantir primeiro que em 2022 haja de fato uma eleição, perante os sinais golpistas emitidos por Bolsonaro e pela escória bolsonarista.

Em seguida, compreender que a fragmentação de votos entre várias candidaturas alternativas impossibilita a chegada de qualquer uma delas ao 2º turno (simplesmente porque o eleitor dos dois pólos tradicionais já está fidelizado).

Daí a nossa discordância dessa campanha genérica “nem, nem” que se apresenta como algo genial. Nem Lula, nem Bolsonaro - ou nem direita nem esquerda; nem vermelho, nem azul - é o mote repetitivo da 3ª via desde sempre. Nunca deu em nada.

O problema é ir além da negação. Quem não quer votar em Lula nem Bolsonaro já está convencido disso. Mas vai votar em quem, afinal? Todos se esquecem que há o “nem, nem”, mas também o “nem, nem, nem” - a rejeição que se estende às opções da 3ª via.

Há quem jamais vote em Ciro, em Huck, em Moro, em Doria, ou no PSDB, no PSB, no PDT… Daí a nossa cobrança contra o “nem, nem”, a lembrança do “nem, nem, nem” e, finalmente, o saco cheio de tanto nhenhenhém. Votar certo todo mundo quer. Falta só convencer o eleitor sobre qual é a melhor saída. Parece fácil, não?