segunda-feira, 7 de junho de 2021

Nem Lula, nem Bolsonaro. O “não” nós já temos. Mas o “sim” vai surgir quando e com quem?


Enquanto Bolsonaro e Lula lideram com folga todas as pesquisas de intenção de voto, diante de quase metade do eleitorado que diz ainda não saber em quem votar para presidente nas eleições de 2022, há uma plêiade de partidos e políticos tradicionais apostando no discurso “nem, nem” para viabilizar uma 3ª via contra a polarização.

Nem Lula, nem Bolsonaro. Até aí, nenhuma novidade. Desde a primeira eleição pós-redemocratização que tentam encontrar candidaturas alternativas contra a polarização do momento. Foi assim de 1989 a 2018, em oito eleições presidenciais consecutivas.

Na memorável disputa de 1989, todos sabem, a polarização se deu entre Collor e Lula. Alternativas não faltaram nas primeiras eleições diretas depois de 21 anos de ditadura, cinco presidentes militares e mais cinco anos do governo Sarney. Havia 22 candidatos.

Quem chegou mais perto de quebrar a polarização que estava consolidada desde as primeiras pesquisas foi Brizola. Outros passaram longe: Covas, Maluf, Afif, Ulysses, Freire, Aureliano, Caiado. Perceba que direita, esquerda e centro estavam ali representados.

Em 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014 o cenário esteve polarizado, invariavelmente, entre petistas e tucanos. Surgiram várias candidaturas que pretendiam se viabilizar como 3ª via, mas nenhuma ameaçou de fato o binarismo dominante. E assim se elegeram FHC duas vezes, Lula duas vezes e Dilma outras duas.

A polarização desde 2018 passou a ser entre Bolsonaro e o PT. Dessa vez foi o PSDB que tentou ser a 3ª via, com uma votação pífia. Alckmin fracassou tanto quanto Ciro, Marina, Amoedo, Daciolo, Meirelles, Álvaro Dias e Boulos. Ou seja, o voto “nem, nem”, ou o #ElesNão, fragmentado, não chegou nem perto de quebrar a cultura eleitoral binária do brasileiro.

Isso no momento mais crítico do PT, com Lula preso e o antipetismo no auge. Mas ainda assim Haddad foi o catalisador do voto antibolsonarista, também no apogeu da direita, do lavajatismo e com toda a narrativa da antipolítica e da bolha nas redes favorável a Jair Bolsonaro.

Chegamos às vésperas da eleição de 2022 com o bolsonarismo em xeque e Lula reabilitado na política e na justiça. Tudo reforça a polarização, inclusive esse discurso “nem, nem”. Ao negar igualmente Lula e Bolsonaro, como se ambos fossem as duas faces da mesma moeda, e não apresentar uma alternativa concreta, induz o eleitor a preferir um lado, ainda que de maneira inconsciente.

Apelar para o discurso “nem, nem”, neste momento, é dar um tiro no pé. Tentar igualar Bolsonaro a Lula num contexto em que o Brasil precisa da união de todas as forças democráticas contra um presidente demente, criminoso, miliciano, golpista, genocida, é também um desserviço ao país.

A busca de uma alternativa eleitoral é legítima, claro, mas comparar ou equiparar Bolsonaro a Lula é um erro político, estratégico, civilizatório. Comunicação equivocada, marketing ruim. Forma e conteúdo inadequados. Erraram a mão. Empobreceram o debate. Desceram ao nível da 5ª série bolsonarista.

Note ainda que aqueles que mais apóiam o “nem, nem”, curiosamente, é justamente quem se nega a fazer uma oposição mais contundente contra esse desgoverno de lunáticos criminosos e não adere objetivamente ao #ForaBolsonaro. Será mera coincidência?

Você pode não querer votar nem Lula, nem Bolsonaro. Faz todo o sentido. Mas não coloque o antipetismo e o antibolsonarismo na mesma balança. Não force a barra. São coisas completamente diferentes. Juntar tudo no mesmo caldeirão só serve aos extremistas.

Buscar uma alternativa é construtivo, afirmativo. Por outro lado, fazer discurso “nem, nem” (sem oferecer alguma opção palpável de candidatura, até porque ela inexiste ainda) é reforçar os dois polos já colocados.

Atacar eleitores petistas e bolsonaristas como se fossem idênticos no prejuízo à democracia não conquista um só voto, porque a ideia do “nem, nem” não aglutina ninguém, apenas derruba pontes e adia o cada um por si.

Assim como em todas as eleições presidenciais anteriores, não apareceu ainda um nome minimamente consensual e viável para quebrar a polarização. O voto “nem, nem” segue fragmentado e insuficiente para colocar um candidato da 3ª via num eventual 2º turno. Será que alguém pode ainda mudar esse cenário? Quem?