quarta-feira, 16 de junho de 2021

Abacaxis, bananas, feiras, hortas, antenas, espigões e monstrengos na relação entre a Câmara e a Prefeitura de São Paulo


Entre os muitos abacaxis que estão no colo dos vereadores paulistanos para descascar, ao menos um é novidade. Começa a existir um ruído entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e a base governista. Nada ainda que abale a ampla maioria consolidada no Legislativo, até porque as bancadas são ávidas pelos mimos ofertados pelo Executivo. Porém, pipocam queixas aqui e ali.

Pela frente, a Câmara Municipal de São Paulo terá para votar a Lei das Antenas (hoje em 1ª discussão), a revisão do Plano Diretor e inúmeros projetos de intervenção urbana, sobre os quais já mencionamos a nossa preocupação por aqui. Eles misturam ações caça-níqueis com necessários projetos sociais e habitacionais, aberrações arquitetônicas e atentados ambientais. Cabe acertar a dose do remédio para não virar veneno.

Uma armadilha fácil é aceitar a narrativa que disfarça o interesse predominantemente financeiro do projeto de lei com uma roupagem social. Isso acontece com toda essa variada lista que está em pauta. Pior: eles se valem da oposição entre movimentos ambientais e de moradia, por exemplo, ou como se o apelo social fosse incompatível com a sustentabilidade. Não caia nessa!

Falando objetivamente: sabe o que significa fazer a revisão do Plano Diretor na Câmara Municipal de São Paulo, em plena pandemia, e com participação reduzida e dificultada da população? Transformar a tal “Casa do Povo” numa grande imobiliária e empreendedora de monstrengos urbanos.

A situação em muitos bairros já é trágica antes mesmo dessa revisão prevista em lei e da implantação de operações urbanas que privilegiam apenas o interesse econômico, desprezando a opinião das comunidades locais, tratorando direitos e agindo contra qualquer providência social ou sustentável. Imagine o caos que vem por aí.

As ilustrações postadas aqui trazem alguns exemplos concretos na zona leste: um prédio gigantesco no Tatuapé desafia qualquer legislação (inclusive as leis informais do bom senso e do bom gosto), fazendo sombra sobre quarteirões residenciais e gerando um novo pólo de tráfego inadministrável. Mais grave: serve de modelo para outros projetos semelhantes na mesma região (Mooca e Vila Prudente também receberão seus monumentos ao inferno urbano).

Na Mooca, aliás, se não bastasse a luta eterna pelo parque na totalidade do terreno da antiga Esso (Alô, Ricardo Nunes, vamos cobrar!) e para preservar a praça aonde o poder público quer prolongar a rua Lítio (que liga o nada ao lugar nenhum, privilegiando um único empreendimento imobiliário de luxo e acabando com a praça Eulógio Emilio Martinez), há outros atentados às prioridades e necessidades dos moradores.

Vão acabar com o espaço da Feira Confinada da rua dos Trilhos e com uma área verde de seis mil metros quadrados que funciona como horta comunitária para a construção de moradias. Isso num bairro que tem galpões abandonados e ruas inteiras deteriorados por toda a extensão da linha férrea. Por que então detonar as raríssimas áreas verdes existentes?

A troco de quê? Tudo a preço de banana e transformando o planejamento urbano dessa região do centro expandido paulistano em típico fim-de-feira. É uma espécie de quintal abandonado do centro. Ou a xepa da Prefeitura a serviço do interesse imobiliário e em detrimento da sustentabilidade e da qualidade de vida. Inadmissível!