O impacto ambiental e o tráfego desordenado de veículos estaria impedido se a legislação fosse respeitada ao pé da letra. Mas sempre há meandros, malandragens e jeitinhos para descumprir o Plano Diretor de São Paulo (que inclusive será revisto em breve, no meio da pandemia e com as construtoras ávidas em espalhar esses monstrengos caça-níqueis por diversos bairros residenciais). A Prefeitura e a Câmara Municipal parecem não ver problemas nesses atentados à lei, ao bom gosto e à qualidade de vida.
O condomínio gigantesco do Tatuapé teve seus 170 metros de altura erguidos numa região em que o limite da legislação municipal é de 28 metros. Ou seja, a obra é seis vezes mais alta que o permitido. E o que vem pela frente, se depender da vontade dos vereadores - que não economizam votos e discursos com argumentos de que essas construções trazem emprego e progresso aos bairros - é daí para pior.
Mas será mesmo que esse é o modelo de crescimento ideal para São Paulo? Apontamos aqui com frequência também que as poucas áreas verdes remanescentes na cidade estão todas destinadas a virar empreendimentos imobiliários de luxo, em vez de praças comunitárias e parques bem conservados - tão necessários, como se viu principalmente nestes dois anos de isolamento social e restrição à aglomeração de pessoas em áreas fechadas.
Já foi o tempo em que qualidade de vida, meio ambiente, planejamento urbano, mobilidade, acessibilidade e desenvolvimento sustentável eram consideradas pautas supérfluas ou assuntos de segmentos elitistas da sociedade ou de cidadãos desocupados. É justamente o contrário!
Não há como garantir a saúde dos paulistanos e a gestão pública eficaz da cidade se não existirem limites legais muito claros, transparentes e objetivos de como, quanto e de que forma podemos e queremos ainda crescer - se já vivemos numa metrópole caótica e quase ingovernável. Estamos de olho, senhor prefeito, senhoras e senhores vereadores!