domingo, 7 de fevereiro de 2021

Em tempos de Karol Conká, Lumena e Lucas, precisamos falar de BBB, cancelamento e racismo


Desde que o BBB deixou de ser mero entretenimento televisivo para virar palco de militância forçada e filosofia de banheiro, assuntos sérios da sociedade - que precisam de fato gerar debate - entraram enfim na pauta do dia para o povão, mas na maioria das vezes de um jeito totalmente enviesado.

Até o ano passado havia uma espécie de cota para participantes negros (e também para gays). No BBB e em outros programas do tipo, era uma regra tácita da seleção de elenco para seguir a cartilha do politicamente correto. Bota lá um pretinho, uma pobrezinha, uma bichinha engraçada e pronto. Tarefa cumprida. E segue a festa!

As redes sociais e a recente política do cancelamento inseriram um componente externo muito forte e decisivo neste jogo. Não por acaso, absolutamente todos os realities shows do ano passado foram vencidos por participantes negros. BBB, A Fazenda, Dança dos Famosos, The Voice, The Voice Kids, Canta Comigo, Canta Comigo Teen, MasterChef, The Circle Brasil. #BlackLivesMatter

Só que a onda que veio forte tem o repuxo, a corrente de retorno. Quem é do mar conhece - e quem não conhece é pego de surpresa, arrastado e correndo o risco de morrer afogado. Acontece isso neste exato momento, com os surfistas da vez do BBB. O primeiro com igualdade numérica de brancos e pretos (uma conquista, sim, mas e daí?).

Todo mundo chegou escolado no politicamente correto e especialista em cancelamento. Mas o confinamento mexe com o psicológico de todos - óbvio, se não fosse assim, nem existiriam esses programas com estranhos convivendo trancados numa casa sem informação externa. O dia a dia no isolamento derruba máscaras. Desmonta personagens. Desconstrói discursos. Revela o caráter.

Somos todos humanos. Educação, honestidade, dignidade, princípios, inteligência, equilíbrio emocional, sonhos, sentimentos, visões de mundo. Tem gente boa e gente má em todo lugar, de todas as origens e todas as cores. O jogo exacerba qualidades e defeitos, ainda mais regado ao álcool das festas e ao stress das câmeras.

Não que seja novidade o uso político e ideológico do BBB e o pós-BBB. Afinal, Jean Wyllys à esquerda e Adrilles Jorge à direita são exemplos extremos de carreiras impulsionadas pela repercussão social e eleitoral do reality show. Um ex-deputado do PSOL, outro lambe-botas do bolsonarismo. Mas o BBB21 extrapola e traz um desserviço inédito a diversas bandeiras.

Um time de jovens (ou nem tão jovens) imaturos, egocêntricos, mimados, celebridades virtuais treinadas para um discurso que supostamente viralizaria nas redes e poderia inflar a fama midiática instantânea como atalho para o tal um milhão e meio do prêmio perseguido por todos. Branco ou preto. Gay ou hétero. Camarote ou pipoca, na linguagem do jogo.

Vamos dar nomes aos ratinhos de laboratório? Karol Conká uma decepção universal. Lunática. Vazia. Descolada da realidade. Lumena, a voz da sabedoria plena na Terra (plana, talvez). Reencarnação de Deus como mulher preta. Um convite para qualquer um ser ateu. Nego Di, o humorista sem um pingo de humor. Fiuk, o canastrão de sempre com discurso de homem branco, cis, hetero desconstruído. Argh! 

Canceladores sendo cancelados (e cancelando a si próprios). Militantes contra o racismo, racistas. Personalidades fracas, maçantes, arrogantes, falsas, manipuladoras, preconceituosas, intolerantes. Um prato cheio para sociólogos, antropólogos, psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, cientistas políticos, filósofos. E para o público, um show de horrores. Nosso espelho diário. Tristes tempos.