terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Na volta do recesso, testando a paciência do paulistano, partidos formam blocos na Câmara de São Paulo para ocupar espaços em comissões importantes


Hoje, às 15h, é o primeiro dia efetivo de plenário da nova legislatura do Legislativo paulistano. Vamos começar a descobrir se a vida do prefeito Bruno Covas (PSDB) - que tem ampla maioria de vereadores na base de sustentação - será mais fácil ou mais difícil que na gestão anterior. Apostamos na segunda opção.

Isso porque o humor da população não é dos melhores. Sensíveis à pandemia e à crise decorrente, os paulistanos vem perdendo cada vez mais a paciência com os políticos. A politização da agenda de enfrentamento ao coronavírus, o recesso que não devia ter acontecido em pleno agravamento da segunda onda, o vale-tudo eleitoral. É tolerância zero!

Do prefeito que foi passear no Maracanã com o filho para assistir à final da Libertadores enquanto São Paulo retornava à fase mais restrita do isolamento (sem nenhuma opção de lazer no fim-de-semana) ao presidente negacionista e inimigo da vacina, passando pelo governador que não sai do palanque de 2022 e faz um vai-vem populista entre as fases vermelha e laranja da quarentena.

É nesse clima, com os carnês do IPTU chegando, desemprego em alta, economia em baixa e a cidade passando uma impressão de abandono, que os vereadores iniciam os trabalhos nesta terça-feira. A preocupação deles no momento é preencher as comissões de trabalho mais cobiçadas, como Constituição e Justiça, Finanças e outras.

Na eleição do vereador Milton Leite (DEM) para a presidência da Câmara Municipal de São Paulo, em 1º de janeiro, já havia dois blocos formados para reivindicar os melhores espaços na Mesa Diretora. A sina se repete agora para as comissões permanentes, preenchidas proporcionalmente pelas maiores bancadas.

Em janeiro houve um bloco formado pelo Patriota, com três vereadores, o Podemos, também com três, e o Novo, com duas vereadoras, número que o equiparava às bancadas do PT e do PSDB, as maiores da Câmara, todas com oito parlamentares.

Essa união de diferentes legendas propiciou, no acordo para a eleição da Mesa Diretora, a indicação do vereador Fernando Holiday (Patriota) para a 2ª secretaria da Câmara, e a 2ª suplência para o Dr. Milton Ferreira (Podemos).

Outro bloco de cinco vereadores (três do MDB, um do PSC e um do PP) garantiu a 1ª suplência da Mesa para George Hato (MDB) e a eleição de Gilberto Nascimento Jr. (PSC) como corregedor-geral, mas teve a dissidência de Arnaldo Faria de Sá (PP), que também se lançou candidato à Corregedoria acusando quebra de acordo.

Pois agora os partidos se misturam em novos blocos (alguns desfazendo inclusive a união de um mês atrás). O DEM (com 5 vereadores), o MDB (3) e o PTB (1) formam um novo bloco de 9 parlamentares, liderados pelo próprio presidente Milton Leite - e se tornando agora a maior bancada.

O Podemos (com 3 vereadores), o Solidariedade (1) e o PP (1) também anunciam um novo bloco, somando 5 parlamentares sob a liderança do Dr. Milton Ferreira (Podemos). Um pouco menor, com 4 vereadores, é o novo bloco que reúne o PSD (3) e o PSC (1). Tudo para conquistar mais espaço nas comissões.

A oposição ao prefeito Bruno Covas à esquerda reúne PT (8 vereadores) e PSOL (6) num bloco informal de 14 vereadores. Em tese, outros 41 vereadores são potencialmente governistas, de acordo com a pauta do Executivo.

Pode se dizer que Patriota (3), Novo (2), PSB (2), PSL (1) e uma vereadora declaradamente bolsonarista do Republicanos são os mais “independentes” ou propensos a jogar cascas de banana no caminho do prefeito para aprovar seus projetos. Anote aí: a tropa-de-choque governista será convocada muitas vezes nos próximos anos.

Outro bloco não oficial mas com força crescente é a chamada bancada evangélica, com mais de 20 vereadores de diversos partidos. Fazem parte desse bloco, por exemplo, a 1ª vice-presidente da Câmara, Rute Costa (PSDB), o 2º vice-presidente, Bispo Atílio Francisco (Republicanos), e o corregedor-geral, Gilberto Nascimento Jr. (PSC).

A base governista, portanto, entre vereadores fiéis e flutuantes, reúne de 32 a 41 votos, dependendo do tema em pauta. Votações de pautas sociais ou a revisão do Plano Diretor vão exigir muita negociação e convencimento por parte do governo para garantir a aprovação por até dois terços do plenário. O peso político dos blocos e dos vereadores individualmente - inclusive com chantagens - cresce muito nesses momentos.

A polarização entre governo e oposição, esquerda e direita, conservadores e progressistas, dará o tom dos discursos e das votações da Câmara em 2021. A eleição de mulheres negras, vereadores gays e trans, mandatos coletivos e esses blocos formais e informais de interesses conflitantes vão se digladiar em plenário no dia a dia. Começa hoje. Acompanhe.