segunda-feira, 26 de julho de 2021

Conceitos de “marginal” e “vagabundo” atualizados com sucesso


Sou do tempo em que andar de skate era proibido em São Paulo. Eu tinha 13 anos - a idade da nossa medalhista olímpica Rayssa Leal - e o então prefeito Jânio Quadros mandava prender e apreender quem o desafiasse e saísse por aí de prancha com rodinhas fazendo suas manobras.

A prática só foi liberada anos depois, com a posse da prefeita Luiza Erundina. Eram outros tempos, em que a modalidade esportiva - assim como o surfe, que também estreia agora nas Olimpíadas de Tóquio - era considerada atividade de marginais e vagabundos.

Eu queria ver a cara do tresloucado Jânio, hoje em dia, assistindo ao Brasil conquistar suas medalhas olímpicas como as pratas da fadinha Rayssa e do também ainda jovem Kelvin Hoefler, embora ele já com o dobro da idade dela aos 27 anos.

A soma da idade dos dois é quase o número de anos que se passaram desde aqueles tempos em que Jânio mandava os skatistas para o Juizado de Menores como infratores e delinquentes até agora, em que as pranchas (sobre rodas e ondas) são os acessórios que dão superpoderes aos novos heróis nacionais.

É engraçado esse pensamento nostálgico, essa viagem no tempo. Havia um toque folclórico e um tanto inocente nos anos 80. Mas quem diria que um menino daquela geração, saudoso do skate surrado e da velha prancha, assistiria a essa transformação tão radical - num sentido maior até que o termo que identifica os esportes de ação e adrenalina.

Fica tudo ainda mais inusitado ao lembrarmos que naquela mesma época Jair Messias Bolsonaro, defenestrado do Exército, trocava a patente de capitão pelo mandato de vereador do Rio de Janeiro, eleito em 1988 aos 33 anos e desde então sustentado por recursos públicos da sua aposentadoria militar (acrescida depois da aposentadoria parlamentar pelas três décadas como deputado medíocre).

Aí a gente percebe que passou da hora de atualizar os conceitos de MARGINAL e VAGABUNDO. Dos tempos do janismo e do malufismo, onda em que políticos como Bolsonaro surfaram para se dar bem na vida, até ele próprio consolidar o bolsonarismo, graças à escória de seguidores e eleitores que pensam e agem como ele, muita coisa mudou.

Mas a canalhice e a hipocrisia de velhacos da política como Bolsonaro e os bolsonaristas continuam as mesmas. Políticos demagogos, populistas, autoritários, corruptos, ineptos - e ainda mais retrógrados, obscurantistas, negacionistas, preconceituosos, mafiosos, facínoras. Ou, resumindo, marginais e vagabundos.