terça-feira, 4 de outubro de 2022

Precisamos falar sobre o Brasil que nós queremos


Afinal, por que tanta gente se identifica com Bolsonaro e vota nele com orgulho? Veste a camisa verde e amarela, pendura a bandeira na janela e estufa o peito para gritar com satisfação o número de ocasião do seu candidato: e tanto faz se é 22, 17, 11 ou 10. O voto é no “mito” ou em quem ele mandar. Toca o berrante que o gado segue. Simples.

Há uma confiança cega no “capitão”, nos filhos dele (01, 02, 03 e 04) e na primeira-dama (e podia ser qualquer uma das esposas anteriores, mas hoje é esta “princesa” evangélica da linguagem de sinais e mãe da única “fraquejada” que nasceu menina no seio da familícia, coitada).

Gente de bem, da tradicional família brasileira, com Deus e pela liberdade, vota no Bolsonaro e em quem ele indicar do círculo de amigos e comparsas. Daí votarem no ex-ministro do meio ambiente que prega a destruição ambiental. No ex-ministro da saúde que foi omisso na pandemia. Na ex-ministra dos direitos humanos que é contra todos esses direitos. No ex-ministro da ciência que ataca os cientistas. Ou em qualquer um.

Daria uma tese sociológica interminável buscar as causas mais profundas deste voto apaixonado dos fanáticos e lunáticos. Porém, numa análise simplista, minha tendência é apontar o analfabetismo funcional, distúrbios psicóticos, ingenuidade patológica ou desvios de caráter para alguém, depois de tudo que se conhece de Bolsonaro e do bolsonarismo, querer ser tachado de bolsonarista. Enfim…

Como explicar a ex-atriz famosa que diz ver em Bolsonaro traços do próprio pai - e ficar feliz com isso? Interpretações freudianas à parte, o fato é que, para muitas pessoas, Bolsonaro realmente é a cara do Brasil. Pior: seus traços autoritários e arrogantes, o pensamento raso e retrógrado, os atos populistas, demagógicos, hipócritas, machistas etc. são vistos como suas maiores virtudes.

O que para mim é asqueroso, indigno e revoltante, sinal inequívoco de despreparo e desequilíbrio, para muitos é o espelho de uma sociedade que se regozija deste personagem meio jeca meio macunaíma, simplório, preguiçoso, ardiloso, sem caráter. É quase cultural de determinado tipo de brasileiro o papel que ele espera do político (ou de qualquer “autoridade”) com seu poder patriarcal, do homem provedor, protetor e procriador, num estado paternalista.

O antipetismo se mostra hoje maior e mais influente que o antibolsonarismo. Lula até superou momentaneamente o preconceito das origens do PT, quando perdia qualquer eleição (vide o caso de Collor em 1989, então um almofadinha desconhecido que despontou na mídia como “caçador de marajás”). O eleitorado deu uma alforria a Lula no pós-FHC, quando o elegeu e reelegeu presidente, mas ele traiu essa confiança. Roubou ou deixou roubar. Deve, portanto, ser escorraçado pelos “cidadãos de bem”. Que seja encarcerado ou vá para Cuba.

Não importa se todos os políticos e todos os partidos chafurdem no mesmo pântano de ilegalidades, fraudes e corrupção. Ao “nove dedos” não foi concedida essa licença para errar. Ele não! Já não foi suficiente o operário iletrado ter sentado à mesa da Casa Grande? Quer mais privilégios? Basta! Essa esquerdalha não merece mesmo confiança. Vamos retomar o rumo nostálgico da direita, da ordem e do progresso. Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.

Assim caminhamos para o segundo turno. Na minha visão de mundo não há nenhuma dificuldade para escolher entre a civilização e a barbárie. Mas será que todos querem o mesmo Brasil que eu desejo? Eu voto Lula porque é a minha opção pela democracia com viés social e liberal. Porque eu rejeito essa direita tosca, radical, boçal, alienada. Esses inimigos da República e da Constituição, saudosos da ditadura, apologistas da tortura, soldados do ódio, do preconceito e da morte. Deus nos livre!