sábado, 15 de agosto de 2020

Não precisamos do jornalismo enquanto houver o bolsonarismo



A popularidade do presidente avança. As hashtags #BolsonaroTemRazão e #Bolsonaro2022 estão mexendo com a minha cabeça. Leio: “Aceita que dói menos”. Penso: Quem sabe se o meu caso ainda tem solução?

Eu fico até com vergonha de confessar, mas tenho há 30 anos uma das profissões mais antigas do mundo. Aquela pela qual a gente faz qualquer coisa, vive no meio das drogas e da bandidagem, e se entrega de corpo e alma por dinheiro, sabe?

Sim, sou jornalista, mas não quero mais me prostituir. Preciso me redimir, mudar de vida. Vou procurar uma dessas igrejas que apóiam Bolsonaro, entrar no whatsapp da Aliança pelo Brasil e me matricular no curso do Olavo.

Se há uma atividade profissional fora de moda, odiada, desprezada, desvalorizada, desqualificada, com certeza é o jornalismo. Mão de obra de desocupados, antro da esquerdalha, curso superior que nem exige diploma. Vê se pode...

Enfim, pra que servem os jornalistas se temos os bolsonaristas? Por que vou me sujeitar a ler notícias pagas e opiniões dos outros se posso emitir as minhas próprias, ou aquelas que mais me convém?

Nada mais inútil que a imprensa inventada por Johannes Gutenberg no século XV. Afinal, nem o Brasil tinha sido descoberto ainda, então sai pra lá com essas velharias. Jornal serve para embrulhar lixo. Ou é o próprio.

Hoje, graças às facilidades tecnológicas e redes sociais, todo mundo é um potencial produtor e difusor de informações, notícias e opiniões. Jornal, revista, rádio, TV, internet, tudo está a um toque dos nossos dedos.

Eu sou o meu próprio repórter, redator, editor, fotógrafo e câmera man. Eu sou a mídia, a notícia e o público, tudo ao mesmo tempo. O tal do McLuhan, de “o meio é a mensagem”, enlouqueceria no iPhone 11 Pro dele.

Dicionários e faculdades ensinam que jornalismo é a atividade profissional que visa coletar, investigar, analisar e transmitir periodicamente ao grande público, ou a segmentos dele, informações da atualidade, utilizando veículos de comunicação para difundi-las.

Mas pra que precisamos da #GloboLixo ou da FALHA de S.Paulo se já vivemos em rede, conectados dentro da nossa bolha, difundindo livremente as nossas verdades, sem o incômodo dos divergentes?

Ah, eu ia continuar essa reflexão, mas ninguém lê textão, mesmo! E, outra, estou superatrasado. Não atualizei o blog, não respondi os directs, não postei meus stories e ainda preciso gravar pro Youtube e treinar a nova dancinha do TikTok.

(Porra, jornalista moderno sofre pra c*****!)