sábado, 1 de agosto de 2020

Quem tem medo de Sergio Moro?

Não, Sergio Moro não é o meu candidato à Presidência da República. Nem a qualquer outro cargo eletivo. Aliás, ele despencou no meu conceito ao aceitar ser ministro deste desgoverno. Mas quem disse que ele não pode disputar uma eleição?

Essa manobra casuística para impedir a candidatura de ex-juízes ao impor uma quarentena de oito anos é uma vergonha. Um golpe contra a democracia, contra a vontade do povo, contra os direitos e a igualdade dos cidadãos.

Uma articulação que une do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), passando por políticos corruptos e partidos sujos, dá sinais do desespero com a simples possibilidade de uma candidatura lavajatista.

Voltemos ao Sergio Moro. Vou desenhar: eu não o considerava um juiz imparcial, visto que havia alvos preferenciais e uma parceria declarada (e questionável juridicamente) com a força-tarefa da Operação Lava Jato.

Nem o considero um herói, apesar de obviamente reconhecer a importância da sua atuação. Relevante. Transformadora. Histórica. Mas que a aproximação com Bolsonaro e o bolsonarismo provou que não era assim tão isenta, imparcial e despretensiosa.

Pois, dito isso tudo, e reafirmando que eu não apóio nem voto em Sergio Moro, acho um erro absurdo inventarem essas chicanas e pegadinhas burocráticas para barrar a sua eventual candidatura.

Até porque esse golpezinho mequetrefe pode ser um tiro n’água. A lei não vai retroagir para impedir que Moro, ex-juiz desde 2019, possa exercer plenamente seus direitos políticos, que hoje lhe permitem votar e ser votado. Pouco provável, né?

De todo modo, os velhos políticos acusam o medo que sentem de caras novas na política. Se não bastasse o monopólio dos partidos, querem evitar também que candidatos egressos do Judiciário e do Ministério Público disputem democraticamente seus votos.

Tentar impedir apenas juízes e promotores de pegarem carona na fama para iniciarem carreira política, mais que oportunismo, conveniência e ilegalidade, é uma canalhice.

E policiais, artistas, empresários, advogados, jornalistas, apresentadores de TV, médicos, ativistas sociais, influenciadores digitais etc. também precisarão dessa quarentena de oito anos? Bobagem!

Esta proposta não pode avançar. Não faz nenhum sentido, a não ser como aquilo que de fato motiva seus autores e articuladores: golpe, vingança e recanchismo de quem se sentiu atingido pelas investigações. Ora, já não bastava ser corrupto, vão passar atestado?