sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Cría cuervos y te sacarán los ojos


O ditado espanhol tem um duplo sentido neste atual momento político: ao apoiar os candidatos do Centrão no Congresso (com o respaldo de parte da oposição), Bolsonaro pode estar criando os corvos que lhe arrancarão os olhos; ou, ao contrário, a política institucional e tradicional, cada vez mais fragilizada e desacreditada, juntou as peças que faltavam para o golpe bolsonarista.

Não me parece uma alternativa muito lógica e coerente para setores civilizados da sociedade, partidos políticos, movimentos populares, lideranças, influenciadores e formadores de opinião esse papel resignado, passivo, omisso (e consequentemente cúmplice) com o bolsonarismo: achamos que o presidente é inepto, criminoso e uma ameaça concreta à democracia, inclusive com o eventual apoio de grupos golpistas paralimitares, mas não reagimos.

Alguns ponderam que, se pedirmos o impeachment já, como não há “clima político”, seremos fragorosamente derrotados ou, ainda pior, podemos desencadear até uma suposta guerra civil. Então nos restaria esperar por 2022 e “torcer” para que o desgaste seja maior e que as instituições sejam suficientemente fortes para nos proteger de qualquer ameaça autoritária ou golpista paramilitar.

Se este cenário for real ou plausível, mais um motivo (talvez o maior de todos) para lutarmos por CPIs no Congresso e pela abertura imediata de um processo de impeachment, acionando todas as forças democráticas e republicanas para afastar Bolsonaro do poder o mais rápido possível.

Para piorar a situação (ainda nesse contexto imprevisível e extremamente preocupante da pandemia), parece certo que os candidatos bolsonaristas vão levar fácil as presidências da Câmara e do Senado na segunda-feira, após atuação pesada do governo em troca de muito$ argumento$ e traições em todos os partidos.

A oposição é nula, omissa, incompetente e parte dela se uniu por conveniência ao Centrão e aos candidatos do Governo. A ilusão é manter Bolsonaro refém da velha política em troca da proteção contra o impeachment e da sobrevivência harmoniosa de todos até 2022.

Mas o presidente demente, populista, desqualificado, miliciano, golpista segue preparando seu atentado à democracia (no pior modelo Trump), ainda com forte apelo popular e agora também com a chancela da política tradicional, que é rejeitada e repudiada pela maioria da população.

Conclusão: alimentamos e fortalecemos o monstro com a falsa expectativa de derrotá-lo em 2022. Erro fatal. Era tudo que o bolsonarismo precisava para se perpetuar no poder. Se hoje abrirmos mão do #ForaBolsonaro e do #ImpeachmentJá poderemos nem ter voz ou vez no próximo ano. O que dirá voto... Valerá a lei do mais forte. Adeus, democracia.