segunda-feira, 27 de julho de 2020

“Bandido bom é bandido morto”

A frase retornou com força neste fim-de-semana, após a divulgação das imagens de um policial militar matando pelas costas um ladrão de moto no meio da rua.

A repercussão é sempre a mesma. De um lado, os defensores da justiça. Do outro, a apologia do justiçamento. O estado de direito contra a lei de talião. A civilização contra a barbárie.

E volta a velha ladainha: “direitos humanos para humanos direitos”. Se o sujeito desviou do caminho da lei, roubou, furtou, a morte é justificável. Mais um CPF cancelado (desde que seja de preto e pobre, obviamente; não serve para colarinho branco, nem fardado).

Essa política de bang-bang tem muitos adeptos. As bancadas da bala atuam em todos os parlamentos, eleitas com votações expressivas. Parte significativa do eleitorado busca eleger esses “heróis” - geralmente policiais com fama de durões ou flagrados matando bandido.

O deputado estadual Coronel Telhada, ex-comandante do Batalhão de Choque da Rota, se apressou a postar nas redes sociais:

“Jornais tendenciosos que sempre valorizam criminosos, noticiam que o PM que matou um ladrão de motocicletas na zona leste cometeu um erro imperdoável. Eu digo, aquele PM praticou um ato legítimo, agindo de acordo a situação e ponto de vista que ele se deparou no momento. Parabéns!”.

Comentamos: “Matar pelas costas e receber parabéns é um pouco desnecessário...”.

Veio a réplica do Coronel Telhada: “Gostaria de ver quem o está criticando executando a função dele e agindo naquele momento. Simples assim...”.

E a nossa tréplica: “Daí a parabenizar vai uma distância enorme. Até porque quem critica provavelmente não tem treino para isso, mas também não mata ninguém, nem pela frente nem pelas costas.”

“Essa apologia da violência faz vítimas como o jovem Guilherme (menino de 15 anos assassinado por PMs ‘por engano’) e tantos outros. Falta equilíbrio e discernimento.”

Resultado esperado: uma chuva de impropérios e até ameaças. “Leva pra casa”. “Esquerdalha maldita”. “Defensores de pedófilos e estupradores”. E “o próximo a morrer no meio da rua pode ser você. Cuidado.”

O que dizer?