sábado, 4 de julho de 2020

O vírus da ignorância e da falta de empatia

Esta segunda-feira, 6 de julho, marca uma das mais importantes etapas no enfrentamento da pandemia do coronavírus em São Paulo. Nossa vida está em jogo.

Afinal, qual será o efeito da reabertura de bares e restaurantes, salões de beleza e muito em breve das academias de ginástica, dos clubes e atividades esportivas, teatros, cinemas, museus, exposições e eventos culturais?

Nesta semana, o trânsito já bateu números recordes no trimestre. Aglomerações voltaram a ser rotina. Retornaram os congestionamentos, as vias paradas por excesso de carros e o transporte público superlotado. Vai piorar.

O horário limitado para o funcionamento das lojas de shopping e do comércio de rua também será ampliado, de quatro para seis horas, com a condição deste último ficar fechado três dias na semana. Uma bobagem.

Lojas, bares e academias com horário reduzido servem apenas para concentrar mais gente em menos tempo. Uma confusão. Não tem nada de científico nessa restrição. É puro capricho burocrático.

A demora para abrir os parques públicos é outro equívoco. Já insistimos tanto por aqui: onde está o maior risco de contaminação, numa caminhada num espaço a céu aberto ou aglomerado dentro de um ônibus e em ambiente fechado com ar condicionado?

A sociopatia e a irresponsabilidade criminosa do presidente Bolsonaro também não ajudam. Parcela da população que ainda segue suas sandices acredita que o uso obrigatório da máscara (que ele acaba de vetar) é desnecessário e que o isolamento social foi exagerado.

Culpam sem razão governadores e prefeitos que optaram pela quarentena e por medidas mais rígidas de distanciamento, enquanto o governo federal - ao demitir dois ministros da Saúde e desprezar a ciência - foi o grande promotor de mortes por omissão e desinformação.

Mesmo na economia, a estratégia política do bolsonarismo é jogar tudo na conta dos adversários (e aí tanto faz se são de esquerda ou de direita), como se o desemprego, a crise e a quebradeira geral fossem responsabilidade exclusiva dos estados e municípios.

O governo federal, repetem os bolsonaristas, fez a parte dele ao se posicionar contra a quarentena, liberar verbas para governadores e prefeitos, e pagar a ajuda emergencial de 600 reais para os mais necessitados.

Ora, mais fake news - como é praxe - deste governo do meme que virou presidente. Quem acha que Bolsonaro fez algo por iniciativa própria, ignora os fatos, desconhece a relação entre os poderes ou age de má fé.

Aqui em São Paulo, João Doria e Bruno Covas foram firmes nos primeiros meses da pandemia. Tomaram medidas rigorosas mesmo enfrentando a oposição dos bolsonaristas e a pressão ruidosa de setores que põem o lucro acima das vidas.

Resistiram por um tempo razoável, até, mas agora cedem ao lobby político e empresarial em pleno ano eleitoral. Eis o dilema: segurar demais e assumir a culpa pela crise econômica ou afrouxar antes do tempo e ver disparar a contaminação?

O desafio está lançado. Serão dias, semanas e meses de altíssimo risco. Nós que seguimos as regras do isolamento e valorizamos a ciência vamos esbarrar nas ruas, cada vez mais, com uma multidão que não está nem aí para nada, tem zero de empatia e de civilidade. Quem vence?

Isso me lembra uma frase clássica de Nelson Rodrigues, que resume bem o meu pensamento e a minha indignação: “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos.”