sexta-feira, 19 de junho de 2020

O perigo da “segunda onda” do vírus: como prevenir e curar

Existe a preocupação justificada com um possível novo surto e o consequente agravamento da crise, após o breve recuo que nos dá uma falsa impressão de controle da doença. É assim com qualquer vírus, como ocorreu com a gripe espanhola e pode se repetir com a Covid-19.

Mas não me refiro aqui e agora à pandemia do novo coronavírus, apesar de que isso também certamente nos preocupa e nos mobiliza para a urgente ajuda humanitária e para a busca de soluções racionais para a crise sanitária mundial.

Estou falando do bolsonavírus, essa infecção política e ideológica que atinge o estado democrático de direito e pode ser letal para todas as conquistas que tivemos com a redemocratização, fragilizando as instituições republicanas e sufocando os nossos direitos e as liberdades individuais e coletivas.

O vírus do bolsonarismo chega como ameaça de ser a segunda onda do golpe de 64 no Brasil, com todas as características do período militar original. Os sintomas são a instabilidade institucional, a crise econômica, o vazio de lideranças e o fantasma de um comunismo surreal, que geram uma reação conservadora desproporcional.

A tática golpista aposta exatamente na polarização política burra e estreita, no confronto social que sobrepõe a emoção à razão, o ódio ao diálogo, o dissenso ao consenso, o obscurantismo ao iluminismo, o populismo à constituição, a barbárie à civilização.

Todos os alertas da iminente tentativa do golpe bolsonarista, essa segunda onda autoritária no Brasil, estão dados. Os ataques ao sistema político, ao judiciário e à imprensa, o parasitismo ideológico, o negacionismo da cultura e da ciência, a contaminação da democracia com fake news e manifestações fascistas.

Atos pelo fechamento do Congresso e do Supremo, a idolatria por ditadores e torturadores, o empoderamento de fanáticos e lunáticos, a nomeação de um ministério de ineptos, o desmantelamento das medidas contra a corrupção, a aproximação com o Centrão e o loteamento fisiológico do governo.

A traição das promessas eleitorais mais gerais, que atenderiam todo o conjunto dos brasileiros que votaram em Bolsonaro por acreditarem no fim da política do “toma lá dá cá”, nas propostas reformistas do Estado e na adoção do liberalismo clássico.

Em vez disso, o presidente se mostra um reacionário cada vez mais restrito à sua bolha familiar e ideológica, vinculado a milicianos virtuais e reais, fazendo apologia diária do autogolpe, derrubando pontes institucionais, envergonhando e fechando as portas do mundo para o Brasil.

O distanciamento de apoiadores importantes e simbólicos, do ex-juiz Sérgio Moro a parlamentares bolsonaristas eleitos com recorde histórico de votos, como as deputadas Joice Hasselmann e Janaína Paschoal, ou o senador Major Olímpio, por exemplo, acentua essa sensação de traição e o isolamento crescente.

Os episódios desta semana mostram que o fim deste governo é inevitável: número recorde de mortos pelo coronavírus; busca, apreensão e prisão de aliados nos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos; demissão ruidosa e traumática de Weintraub; a prisão do Queiroz, escondido na casa do advogado da família Bolsonaro.

O meme que virou presidente, um despreparado, desqualificado, sociopata, doente, precisa ser parado, afastado, isolado, tratado, interditado. O Brasil não pode se sujeitar a continuar exposto a este vírus letal. A cura está no remédio constitucional. A vacina é o impeachment já!