terça-feira, 16 de junho de 2020

#VidasNegrasImportam (Será?)

Mais um jovem negro e pobre assassinado pela PM. O argumento? Foi morto por “engano”. 

Os policiais pensaram que Guilherme Silva Guedes, de apenas 15 anos, fosse um bandido. Foi engano.

Claro! Moleque preto e pobre, bem vestido, na rua de madrugada, só pode ser bandido na mentalidade racista institucionalizada no Brasil.

As “famílias de bem” exigem que a polícia faça essa faxina social. Elimine os suspeitos. Acabe com essa raça. Corte o mal pela raiz.

Se estava na rua era bandido. Se nasceu preto e pobre, era bandido. Se estava com roupa boa, era bandido. Só pode! Se não era, paciência, foi morto por engano. Mais um.

Ossos do ofício para a corporação que é treinada para matar. Tanto faz se boa parte dos policiais também seja de pretos e pobres, ou de brancos mal pagos. A PM mata!

Quantos mais vão morrer? Quantas vidas negras e pobres vão virar estatística? Quantos CPFs vão ser cancelados, como bradam políticos canalhas e populistas e apresentadores de programas sensacionalistas?

Dessa vez foi o Guilherme. Saiu da casa da avó na hora errada, no lugar errado. Foi levado pela polícia por engano. Engano? 

Reapareceu morto com tiros nas mãos e na cabeça. A população da comunidade de Americanópolis fechou a Avenida Cupecê, fez barricadas, queimou caçambas e pneus, depredou ônibus.

Por que a revolta? Porque o povo pobre e preto acusou a PM, com razão, mas o comando da PM, branco e rico, negou que os assassinos fossem policiais.

Corporativismo. Cumplicidade. Negligência com a cultura do genocídio, do preconceito e do fascismo que pairam no ar.

Quando as atenções dos brancos se voltaram para o protesto e as imagens de câmeras vizinhas comprovaram o “engano” da polícia, todos se renderam às evidências.

Mas Guilherme não volta mais. Não era bandido. Não teve chance de se tornar alguém. Um piloto, como sonhava. Nem adulto vai ser. Por engano.

No máximo, Guilherme virou mais um número em tinta preta para o Estado. Personagem de matérias na imprensa. Vai ser lembrado pela família e pelos amigos. Mas a sociedade logo o esquece, no próximo “engano”.

E assim nomes se tornam números. Negros, brancos, favelados. Vidas que pouco importam. Guilherme, João Pedro, Marcos Vinícius, Ághata Felix, Khaylane, Breno, os nove jovens de Paraisópolis... Quantos mais?