segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Alguém já te contou que 65% dos eleitores de São Paulo não votaram no Covas? E, pior, que isso não foi diferente com Bolsonaro?


Você percebeu que dos 8.986.687 eleitores paulistanos, apenas 3.169.121, ou 35%, votaram no prefeito reeleito Bruno Covas (PSDB) no 2º turno? Os outros 5.817.566, ou 65%, são a somatória dos votos em Guilherme Boulos (PSOL), nulos, brancos e abstenções.

Isso é só uma curiosidade, claro. Nada que tire a legitimidade das eleições. Afinal, Covas venceu os dois turnos com méritos e dentro das regras do jogo democrático. Mas não deixa de ser um alerta aos partidos e aos velhos políticos quando a maioria absoluta do eleitorado opta simplesmente por não votar ou votar contra o eleito.

Mas como isso é possível? Bruno Covas teve 59% dos votos válidos, que são aqueles votos efetivados a algum dos candidatos ou a um partido, descontados os brancos, nulos e as abstenções, obviamente. É quando o eleitor manifesta a sua preferência por um ou por outro concorrente, seja pela escolha nominal ou pelo voto de legenda.

Porém, se contabilizássemos os votos brancos, nulos e abstenções para a disputa em São Paulo, com a soma de 3.649.457, eles ocupariam o 2º lugar, entre Covas, o vencedor, e Boulos, com 2.168.109, que numericamente cairia para um hipotético 3º lugar.

Em capitais como o Rio de Janeiro foi ainda pior: até o prefeito eleito Eduardo Paes (DEM) teve menos votos que os ausentes, nulos e brancos ao exorcizar os cariocas daquele encosto do Bispo Crivella (Republicanos).

Apesar de inusitado, isso é relativamente comum. A maioria dos eleitores também não votaram no presidente Jair Bolsonaro em 2018. Em uma população de 210 milhões de brasileiros, segundo os dados oficiais, havia 147,3 milhões habilitados a votar.

Os que escolheram Jair Bolsonaro no 1º turno somaram pouco mais de 49,2 milhões (46,03% dos votos válidos, ou 33,4% do total de eleitores, ou ainda cerca de 23% da população). Ou seja, um terço dos brasileiros aptos a votar escolheram o então candidato do PSL.

Outros 57,7 milhões de eleitores optaram por algum dos demais candidatos. Eram 12 (sendo Fernando Haddad, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e João Amoedo os mais votados). Sem contar os 3,1 milhões de votos em branco e os 7,2 milhões de nulos.

Houve ainda um índice recorde de abstenções: 29,9 milhões de pessoas, ou 20,3% do eleitorado. Conclusão: No 1º turno, dois terços dos eleitores simplesmente não votaram em Bolsonaro para presidente.

No 2º turno, Bolsonaro teve 57,7 milhões de votos (55,13% dos votos válidos, ou 39,2% dos eleitores, ou ainda cerca de 27,5% da população). Outros 47 milhões optaram por votar em Haddad. Os votos em branco caíram para 2,4 milhões e os nulos subiram para 8,6 milhões. As abstenções aumentaram em 1,4 milhão: foram 31,3 milhões de ausentes (ou 21,3% do eleitorado).

Questão matemática (e política) óbvia: 60% dos eleitores não votaram em Bolsonaro. Dois terços dos brasileiros simplesmente não escolheram o presidente eleito. Mais da metade do povo não votou nele nem em ninguém.

É assim que funciona o nosso sistema eleitoral. Não chega a ser novidade, mas às vezes é bom reforçar os números para um choque de realidade, principalmente diante desses políticos que nos assombram diariamente.

Maiorias e minorias são circunstanciais. A democracia é permanente e deve ser preservada. Seja com os números de Bolsonaro em 2018, ou de Covas e outros prefeitos em 2020, estes exemplos nos ensinam muita coisa. Conclusão: o Brasil segue polarizado, ou praticamente dividido em três: direita, esquerda e centro.

Eu sei qual é o meu terço, ou porque eu defendo o estado democrático de direito. Estou do lado oposto e equidistante de extremistas, negacionistas, obscurantistas, autoritários, corruptos, nostálgicos da ditadura, milicianos, fanáticos, lunáticos, golpistas. Sou oposição, com orgulho. E você?