quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Bye bye 2020: será que a Câmara pode piorar ainda mais em 2021? Socorro!


A Câmara Municipal de São Paulo encerra hoje o ano legislativo e também a atual legislatura (2017 a 2020) com a aprovação de um Orçamento de R$ 67,96 bilhões para a cidade, conciliando a proposta original do prefeito com a cota individual de emendas parlamentares (incluindo da oposição).

Isso porque a Câmara funciona como um mundo à parte. Mostramos aqui diariamente os conchavos, conflitos e o teatro do plenário. Nem tudo é o que parece. Muita coisa é combinada antes. Os vereadores tem até cota idêntica de projetos para aprovar. Ninguém pode se destacar pela quantidade, pela produtividade. Nivela-se por baixo.

Poucos se salvam pela qualidade. Por isso vão fazer falta, a partir de 2021, vereadores como Gilberto Natalini, Claudio Fonseca, Soninha Francine, Mario Covas Neto, Caio Miranda e Police Neto. Todos vereadores combativos, atuantes, fiscalizadores, produtivos e perfeccionistas.

Por outro lado, homens e mulheres trans, negros e negras, periféricos, feministas e mandatos coletivos são as boas novas para tentar minimamente arejar o legislativo paulistano. Que consigam mudar para melhor a tal “Casa do Povo” e quebrem esses acordos tácitos que emperram a boa política.

O ano termina tumultuado, com a polêmica sobre o aumento de salários na Prefeitura e o vereador Milton Leite no exercício da presidência da Câmara. Ele, que era vice de Eduardo Tuma, presidente que renunciou ao mandato - o atual e o futuro - para assumir uma vaga vitalícia no Tribunal de Contas do Município.

A política paulistana é mesmo muito estranha. E provinciana, e fisiológica, e corporativista. Triste destino da cidade. O próximo presidente da Câmara, veja só, deve ser o próprio Milton Leite, “dono” do DEM paulistano, chefão do Centrão e também do clã de filhos-deputados (um federal, outro estadual).

Milton Leite já presidiu a Câmara de São Paulo em 2017 e 2018, nos dois primeiros anos da gestão de João Doria (PSDB), a quem aderiu desde a primeira hora e ajudou a eleger com votos do fundão da zona sul. Virou todo-poderoso no Legislativo e no Executivo.

O que deve acontecer em 1º de janeiro de 2021 é um “déjà vu”: os partidos se acertam na composição da Mesa Diretora e da corregedoria, fecham acordo também para controlar as principais comissões da Casa e pronto: se seguirem o script, Milton Leite será eleito presidente sem dificuldades.

Obedecendo a proporcionalidade, os cinco cargos (presidente, dois vices e dois secretários) seriam ocupados em 2021 por PSDB, DEM, PT, PSOL e Republicanos. Isso se a oposição não tiver candidato próprio (mas é provável que o PSOL lance algum de seus seis eleitos para marcar território).

Houve uma reviravolta histórica na eleição da Mesa da Câmara em 2005, primeiro ano de José Serra como prefeito. O tucano Ricardo Montoro já dava entrevistas como virtual presidente, mas o colega de bancada Roberto Tripoli juntou votos do Centrão e da oposição, puxou o tapete e virou o jogo.

É raro, mas surpresas acontecem. A declaração de Tripoli (que, aliás, retorna à Câmara em 2021) é antológica: “Eu não vim para disputar a eleição. Meu voto era do Ricardo Montoro, conforme determinação do PSDB. Às 15h30, fui procurado por outros vereadores que perguntaram se eu assumiria a disputa pela presidência. Fiquei surpreso.”

E completa: “Todo vereador tem a vontade de ter esse cargo. No decorrer do dia, percebemos que o PSDB não tinha os 28 votos. A oposição, sim. Eu estava indeciso, mas, no limite, cheguei à conclusão de que não devia perder este momento.”

Isso é a Câmara Municipal de São Paulo. Queremos a tua presença por aqui em 2021, quando continuaremos traduzindo para a linguagem popular o que eles não gostariam que todos soubéssemos. Até lá! Feliz Natal e um Ano Novo melhor para nós que fazemos por merecer!