terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Qual seria hoje o seu voto para presidente?


Muita gente decretou a derrota do bolsonarismo e do petismo nas eleições municipais deste ano. De fato, em números absolutos, os candidatos apoiados por Bolsonaro ou vinculados diretamente ao Lula perderam e o PT ficou bem longe dos campeões de votos, que foram principalmente os partidos do Centrão.

Mas é aí que mora o perigo. Esses partidos cheiram oportunismo. Serão eternamente governistas, com qualquer presidente. Hoje apóiam Bolsonaro, como apoiaram Dilma - e a abandonaram no impeachment. Estiveram com Temer, Lula, FHC, Itamar e Collor, outro que largaram no meio do caminho. Governaram com Sarney, e antes ainda apoiavam a ditadura, de onde surgiram como dissidentes.

A questão é: até quando eles vão dar sustentação ao desgoverno Bolsonaro? Aliás, qual destes partidos do Centrão o presidente vai escolher para se filiar, tendo em vista o iminente fracasso do natimorto Aliança pelo Brasil, que era um partido feito na medida para o bolsonarismo chamar de seu?

Resta a Bolsonaro optar agora pelos partidos que lhe estendem o tapete verm... (ops, isso é coisa de comunista!), que fazem de tudo para filiar o presidente, de olho no voto que ele carregará para 2022. No Top 3 do ranking pró-Bolsonaro estão PP, PTB e Republicanos. Quem dá mais? E quando Bolsonaro vai bater o martelo?

Essa novela da escolha vai garantir a sobrevida do presidente. Até 2022, com a medição da sua popularidade e o sobe-e-desce dos outros presidenciáveis nas pesquisas, saberemos como estarão posicionadas as peças do jogo da sucessão presidencial. Uma coisa é certa: o Centrão vai estar sempre alinhado com o favorito.

Além de Bolsonaro, quem são os outros possíveis candidatos? Obviamente, Lula sonha com a absolvição e a recuperação de seus direitos políticos para reeditar a polarização esquerda x direita e tentar voltar à Presidência. Hoje isso parece pouco provável, mas seria o cenário dos sonhos bolsonaristas e petistas - que se retroalimentam.

O caminho da esquerda parece mesmo ser uma composição como a que foi ensaiada no 2º turno paulistano entre PT, PSOL, PDT, PSB, PCdoB, Rede Sustentabilidade, PCB e UP. Já se cogitam até nomes: Ciro Gomes presidente; Guilherme Boulos, vice. Em São Paulo, Márcio França e Fernando Haddad para o Governo e o Senado. No Rio, Marcelo Freixo. E por aí vai...

Com os números alcançados pelo PSDB em 2020 e principalmente a reeleição de Bruno Covas em São Paulo, apoiada pela mais ampla aliança partidária já vista, em tese o tucano João Doria é o nome mais forte do chamado centro democrático. O dono da bola. Existe até um pré-acordo com o DEM e o MDB.

Porém, há outras variáveis que criam obstáculos nesse caminho dos sonhos de João Doria. Primeiro, ele é uma figura essencialmente paulista. Falta um banho de brasilidade e popularidade para o tucano ganhar expressão nacional. Além disso, sua rejeição é altíssima - inclusive em São Paulo. Até para ser reeleito governador, hoje, ele teria dificuldade.

É nesse contexto que pode surgir a candidatura presidencial do apresentador global Luciano Huck. Assediado pelo DEM (Rodrigo Maia e ACM Neto à frente) e pelo Cidadania, que se abriu para os movimentos cívicos vinculados a Huck exatamente para lhe sinalizar as boas vindas, cabe a ele decidir o seu destino - e no tempo dele, que não necessariamente é o ideal aos partidos.

Circula a informação que ele avisaria a Globo até março de 2021 se decidir mesmo sair candidato. Legalmente Huck teria mais um ano pela frente, até abril de 2022. Vão pesar nessa decisão os números das próximas pesquisas de intenção de voto para a Presidência e as articulações dos partidos e movimentos, que seguem a pleno vapor.

Outro nome obrigatório nas sondagens presidenciais é o ex-juiz Sérgio Moro, que mantém uma legião de admiradores e seguidores fiéis, mas certamente vem desgastando sua imagem e vendo aumentar o time do contra - reforçado agora pelo anúncio da sociedade na empresa que, entre outras coisas, cuida da recuperação da Odebrecht (alvo principal da Lava Jato).

Se antes Moro era odiado apenas por petistas e por políticos envolvidos nos esquemas de corrupção, agora conseguiu a proeza de ser rejeitado tanto por antibolsonaristas (desde que assumiu o ministério de Bolsonaro) quanto por bolsonaristas (por sair do ministério atirando). Ou seja, o Moro de 2022 não será o mesmo de 2018. E vem diminuindo.

Enfim, essa é a projeção de hoje sobre os cenários mais prováveis para 2022. A direita lunática vai seguir com o negacionismo e o obscurantismo de Bolsonaro, seus inimigos imaginários, suas teses golpistas e conspiratórias, inclusive a já anunciada acusação de eleição fraudada.

A velha esquerda parece interessada na partilha do espólio de Lula, reanimada e renovada com o PSOL de Boulos, o PSB de João Campos, o PT de Haddad, o PDT de Ciro, a Rede da Marina, o PCdoB de Manuela e Dino (alguns mais fortes, outros enfraquecidos por derrotas municipais).

E aqueles que buscam uma saída equidistante dos extremos da velha esquerda e da direita burra seguem no meio do bolo (não do Boulos) de PSDB, DEM, PP, MDB, PL, PSD, Podemos, Novo, PV, Cidadania etc., e de lideranças emergentes como Doria, ACM Neto, Covas, Maia e outros políticos de centro-direita, além da espera pela definição pessoal de Huck e Moro. Qual será o próximo episódio?