quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Por que os políticos desprezam tanto a Educação no Brasil?


Será verdade que cuidar da Educação do país, dos estados e dos municípios não dá votos? Essa teoria circula por aí faz tempo: que entre as prioridades do brasileiro não estão o ensino e a cultura, portanto isso justificaria o desinteresse dos políticos pelo tema.

Não é bem assim, claro! Temos diversos educadores envolvidos com a boa política e consequentemente políticos que priorizam a boa Educação. Mas é fato que governos geralmente tratam o assunto de forma sofrível - até porque o nível de exigência da população também não é tão grande.

Pais, alunos, professores, todos queremos uma Educação de qualidade - mas poucos cobramos isso como a obrigação mais básica de todo governante. Talvez esse fator - ou o oposto, já que é uma obrigação - também explique o baixo retorno eleitoral proporcionado aos gestores que se ocupam das propostas para a melhoria do ensino.

Se oferecer boas escolas, com bons professores, estrutura e salários dignos é dever governamental, não esperem qualquer reconhecimento ou agradecimento especial aos políticos que cumprirem este papel. Mas nem é o caso, pois geralmente a qualidade do ensino no Brasil é mesmo insatisfatória. Um problema crônico.

Então, políticos carreiristas apostam em outras vitrines de maior visibilidade, que lhe possibilitem mais votos com menor desgaste e, principalmente, com resultados mais imediatos. Quantas décadas seriam necessárias para que constatássemos melhorias concretas e objetivas na Educação?

A polêmica sobre a votação do Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica) na Câmara e no Senado dão uma amostra de quanto estamos atrasados e mal informados sobre o assunto. Políticos oportunistas, fisiológicos, lobistas de interesses privados deitam e rolam no assalto aos cofres públicos e na descaracterização do Orçamento.

Há uma evidente necessidade da federalização da Educação, de uma padronização nacional. Ou, melhor dizendo, de um Sistema Único, à imagem e semelhança do SUS, gerido pelos estados e municípios. O objetivo final é uma escola de qualidade para pobres e ricos, sem distinção. Isso deveria ser tão óbvio...

Porém, o que assistimos é um incentivo recorrente à (des)educação pública com escolas de baixíssima qualidade, niveladas por um padrão miserável. O dinheiro que já é limitado para o país inteiro ainda é mal direcionado para atender aos interesses de maus políticos vinculados à “pilantropia”.

O desgoverno federal agrava ainda mais a crise ao ideologizar o ensino e agora oferece escolas cívico-militares como panaceia para prefeitos e governadores que o apoiarem. Como em outras pastas, lunáticos bolsonaristas dão as cartas, desmontam o pouco que funcionava bem e são incapazes de melhorar alguma coisa.

Políticos geralmente fazem uma defesa apaixonada (e insana) pela permanência da municipalização da Educação mesmo em cidades que sabidamente não tem recursos nem condições mínimas de manterem suas escolas. O que fazer, então? Vamos tirar na sorte: a criança que nasce num município mais rico, estuda. A que nasce num vilarejo miserável, azar. Dane-se. É isso?

O ano legislativo se encerra com a aprovação do Orçamento para 2021 dos municípios, dos estados e da União. Cabe à Educação, por lei, um percentual mínimo de investimento - quase todo dragado pelos gastos de pessoal e a manutenção da velha estrutura. Não tem como o Brasil dar certo assim.

Quanto desse dinheiro público é efetivamente investido na qualidade, na modernização de equipamentos e salas de aula, na adequação do conteúdo, em novas e mais eficientes metodologias de ensino, na formação de professores, gestores e funcionários das escolas e na eficácia da aprendizagem?

Pois é, a grande massa dos políticos brasileiros e dos próprios eleitores parece ter outras prioridades. Temos urgência de sobreviver e pouca paciência para projetar o futuro. Não passa de utopia pensar na vida das próximas gerações. Como diria o Chaves, do seriado mexicano: “Ai, que burro! Dá zero pra ele!”