sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Bolsonaro quer quadruplicar gastos de publicidade com os concorrentes da #GloboLixo

"Eu não tenho escrúpulos; o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”. Lá se vão quase três décadas desse sincericídio do então ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, numa conversa informal com o jornalista Carlos Monforte, que era também seu cunhado, captada acidentalmente por antena parabólica antes da entrevista ao vivo, na Globo, entrar no ar.

Que hoje Bolsonaro não goste da Rede Globo é um direito dele, ou que não responda às questões dos profissionais da emissora e se recuse a dar entrevistas, ainda que isso vá contra princípios elementares da democracia, da impessoalidade, da transparência da administração pública e da liberdade de imprensa.

Porém, ao tentar quadruplicar o valor da publicidade do governo no Orçamento de 2021, ao mesmo tempo em que corta recursos para a emissora de maior audiência no Brasil e privilegia amigos, aliados e apoiadores em troca de mais recursos públicos, o presidente não está apenas manifestando uma preferência pessoal e demonstrando sua falta de escrúpulos, mas cometendo um crime.

A propaganda é a alma do negócio, diz o clichê. Inclusive nas negociatas políticas e principalmente em governos populistas, autoritários, obscurantistas. Repita uma mentira mil vezes e ela se torna verdade, é o mantra dos bolsonaristas, olavistas, terraplanistas e negacionistas em geral.

O salário mínimo não tem aumento real, o auxílio emergencial é cortado pela metade, as reformas não saem do papel e não acabam com privilégios, o foro privilegiado continua protegendo os corruptos. Danem-se os fatos. Vale a narrativa oficial. Aumentem a verba da propaganda do governo e pronto. Resolvido!

Para Bolsonaro, o jornalismo crítico da Globo é um incômodo. Isso todo mundo sabe. Mas como ele resolve esse contratempo? Simples: Propõe aumentar de R$ 124,5 milhões para R$ 495,5 milhões o dinheiro público para a comunicação institucional, investindo tudo na concorrência da Globo. Bingo!

O ministro das Comunicações, Bolsonaro já foi buscar entre os aliados do Centrão e dentro da família de Silvio Santos: o deputado federal Fábio Faria (PSD), casado com Patrícia Abravanel, apresentadora e herdeira do SBT. É ele quem distribui o dinheiro público às emissoras, atendendo aos interesses bolsonaristas.

A proximidade de Bolsonaro com os donos das redes nacionais de TV também não chega a ser novidade: Edir Macedo (Record), Amilcare Dallevo e Marcelo de Carvalho (RedeTV), Johnny Saad (Band), além do próprio Silvio Santos (SBT), são “parças” (como diria Neymar sobre seus amigos de farra). Fora os donos das retransmissoras regionais, quase todos (maus) políticos.

A afinidade ideológica, regada a muita verba publicitária, garante a parceria com os empresários concessionários de TV (não podemos esquecer das rádios, como a chapa branca Jovem Pan), e também um time de jornalistas e apresentadores declaradamente simpáticos a Bolsonaro (Datena, Russomanno, Lacombe, Sikêra Júnior, Augusto Nunes, Alexandre Garcia, entre outros).

Mas não pense que o poder da caneta de Bolsonaro se limita a essa verba de comunicação institucional. Existe também uma rubrica orçamentária de publicidade de utilidade pública, que em 2019 consumiu outros R$ 283 milhões, além das estatais (Banco do Brasil, Caixa, Petrobras etc.), cujos gastos com propaganda somados beiram R$ 1 bilhão.

Outra benesse bolsonarista para estreitar os laços com os empresários de comunicação, além da verba de publicidade oficial, foi sancionar a lei que permite a entrega de prêmios mediante sorteio, vale-brinde e concursos pelas emissoras. Essa versão televisiva dos caça-níqueis estava proibida por decisão judicial desde 1998. Bolsonaro liberou geral.

Tudo isso, claro, sem contar os recursos diretos e indiretos que mantém as milícias nas redes (anti) sociais, blogueiros, youtubers, shownarlistas e fabricantes de fake news, esses que uma CPI no Congresso e um inquérito no STF já estão investigando, identificando e punindo.

Hoje em dia a fala de Ricupero, que provocou escândalo na década de 90, é praticada no dia a dia e não surpreende mais ninguém. Indo mais fundo: Joseph Goebbels, coitadinho, não passaria de aprendiz de feiticeiro. Talvez fosse estagiário do gabinete de um dos filhos do Bolsonaro, fazendo rachadinha.