quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Siga o dinheiro: a 2ª parte da lição


Dando sequência à lição iniciada no post de ontem do “Siga o Dinheiro”, a aula de hoje da Escolinha do Professor Bolsonaro nos ensina muito sobre o Caixa 2, as rachadinhas (nome bonitinho para outra modalidade de corrupção), o desvio e a lavagem de dinheiro.

Hoje toda a imprensa repercute que a família Bolsonaro se elege e sobrevive às custas de dinheiro vivo. Aliás, muito dinheiro. Milhares, milhões. Deve ser essa paixão por cédulas, por papel-moeda, que motivou o governo a lançar a nota de 200 reais. Presente do papai aos filhinhos.

Por exemplo, isso facilitaria a vida do Queiroz. Nos depósitos picadinhos para a Michelle Bolsonaro, e sabe-se lá de onde veio todo esse dinheiro, bastariam 445 notas para totalizar os R$ 89 mil que Bolsonaro ainda não explicou como foram parar na conta da primeira-dama.

Mas, enfim, Jair Bolsonaro e seus filhos injetaram ao menos R$ 100 mil em cédulas nas campanhas de 2008 a 2014; fora isso, a família movimentou comprovadamente mais de R$ 3 milhões em espécie, segundo dados oficiais.

Esse dinheiro vivo entrou nas campanhas da família através de sucessivas doações eleitorais. No total, esses R$ 100 mil - sem correção da inflação - eram depósitos em espécie feitos por um membro da família em favor de outro. Coerente para quem defende as famílias de bem, mas principalmente os bens da própria família.

Afinal, que homem de bem não usa centenas de milhares de reais em dinheiro vivo para fazer campanhas eleitorais, para comprar dezenas de imóveis ou mesmo para os gastos pessoais cotidianos, como pagar a escola dos filhos, o plano de saúde ou ter um amigo que deposita dinheiro na conta da sua esposa, não é mesmo?

Transações em espécie não configuram crime, mas podem ter como objetivo dificultar o rastreamento da origem de valores obtidos ilegalmente. Foi esse tipo de movimentação financeira suspeita que possibilitou à Lava Jato (por meio do Coaf, órgão extinto por Bolsonaro) prender muito corrupto graúdo.

Os depósitos em dinheiro vivo para o financiamento das campanhas foram identificados pelos jornalistas da Folha nos processos físicos das prestações de contas entregues à Justiça Eleitoral. Claro, então isso deve ser coisa de jornalista comunista, portanto descartado como prova pelo gado bolsonarista.

O fato é que a reportagem analisou recursos recebidos para a eleição de Jair Bolsonaro (sem partido) e de seus filhos Flavio (Republicanos-RJ), Carlos (Republicanos-RJ) e Eduardo (PSL-SP). O elevado uso de cédulas, depósitos em papel-moeda nas campanhas, destoa da prática de outras candidaturas bem-sucedidas no mesmo período.

Já o dinheiro vivo no dia-a-dia da família foi comprovado por investigações em curso (todas bloqueadas, obviamente, por conta da mão amiga dos juízes, do Procurador-Geral da República ou do foro privilegiado), mas levaram o Ministério Público do Rio de Janeiro a denunciar ao menos um dos filhos do presidente pelo recebimento criminoso de dinheiro público em benefício pessoal.

Os outros filhos e a primeira-dama são investigados em ações paralelas, por outros motivos e suspeitas, como é o caso dos depósitos do Queiroz, do emprego de funcionários fantasmas, do patrocínio do chamado “gabinete do ódio”, do uso de robôs nas redes sociais, da disseminação de fake news, da relação com as milícias etc. Tutti buona gente.