segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Vamos falar umas verdades para desagradar a direita, o centro e a esquerda, tudo ao mesmo tempo agora?

No dia da Independência, data meramente simbólica, proponho fazer um ato mais prático, direto e objetivo de desapego, liberdade e autonomia política.

Sem qualquer tutela partidária, sem nenhuma influência ideológica, sem vaidades pessoais, sem políticos de estimação nem interesses eleitorais. Uma reflexão livre, leve e solta.

Isso porque vivemos uma overdose endêmica de fanatismo no país, com o vírus bolsonarista espalhado por aí de forma mais letal que a Covid-19, e não há máscara, cloroquina, ivermectina ou ozônio que nos protejam.

Essa doença traiçoeira e incapacitante aflige parcela significativa da população, talvez inoculada pelo reto, como recomenda o protocolo da ozonioterapia, causando a bolsonarice, um misto de burrice coletiva com letargia bovina.

O povo se comporta como gado e, em comportamento de manada, segue o toque do berrante de falsos líderes a caminho do matadouro. Gritam “mito”, “aceita que dói menos” e “2022 tem mais”, enquanto fazem arminha com os dedos.

Alternam episódios de ódio aos semelhantes, psicose, preconceito e racismo. Enxergam inimigos reais e imaginários por todos os cantos e tem aversão à cor vermelha, sem perceber que o verde-e-amarelo que ostentam provoca as mesmíssimas consequências danosas à sociedade.

Mas prometi desagradar a direita, o centro e a esquerda, certo? Promessa é dívida. Vamos lá, antes que me acusem de esquerdalha, petista, comunista ou isentão, que parece uma ofensa ainda mais grave do que ser simplesmente lulista, bolsonarista, psolista, cirista ou tucano.

Criticar mais o bolsonarismo é chover no molhado. Depósitos do Queiroz, foro privilegiado, aliança com o Centrão, desmonte da Lava Jato, crimes da familícia, vergonha mundial, golpismo, canalhice, fake news, apropriação indébita do auxílio emergencial, do Bolsa Família, da renda mínima, do Minha Casa Minha Vida (tudo bolsonarizado).

Porém, deixando Bolsonaro de lado, leio que o FHC considera agora um “erro político” ter comprado os votos no Congresso para a emenda que instituiu a reeleição e lhe beneficiou com um segundo mandato, há mais de duas décadas. Ora, um pouco tarde para o arrependimento ter algum efeito prático, não?

Comprar votos e parlamentares não era uma atividade inédita, nem exclusiva, embora ilícita. Mas abriu caminho para a consolidação do Centrão e para normatizar a bolsa de valores de deputados e senadores, que desaguaria no Mensalão, no Petrolão e em outros esquemas atuais (daí tanto ódio pelo que chamam de “lavajatismo”).

Para ficar ainda nesse campo da Lava Jato, no fogo cruzado entre os lunáticos bolsonaristas e os fanáticos petistas, que mais recentemente ganharam o reforço de tucanos indignados e desesperados com o envolvimento de Aécio, Serra e Alckmin nas denúncias, é preciso também botar o dedo na ferida.

Verdade seja dita, Sérgio Moro nunca foi um juiz imparcial. Sempre foi um inimigo declarado e perseguidor implacável de Lula e do PT (que também nunca foram santos, alimentaram esquemas bilionários de corrupção e se mostraram incapazes até de uma simples auto-crítica, quanto mais de se libertarem da adoração ao Deus-Lula).

Por que eu digo tudo isso, a essa altura do jogo? Porque as peças para 2022 estão aí colocadas. De um lado, Bolsonaro vai buscar a reeleição a qualquer custo. Do outro lado da polarização, a mais burra e estreita possível, o PT - nessa relação simbiótica e freudiana de amor e ódio que interessa eleitoralmente a ambos.

Ao centro, com viés mais à direita, tentam marcar posição e disputam espaço Sérgio Moro (queimado como ex-juiz e, pior ainda, como ex-bolsonarista) e João Dória (igualmente chamuscado pelo estelionato eleitoral do “BolsoDoria” e pelos caciques tucanos denunciados; e Caixa 2 é fichinha).

Na centro-esquerda, os nomes mais promissores para 2022 são Ciro Gomes (sempre ele, presidenciável desde 1998, ex-tucano, ex-lulista, ex-tudo, com histórico, personalidade e humor que ainda causam temor e desconfiança no eleitorado) e Luciano Huck, o apresentador global com fama suficiente (para o bem e para o mal) e o reforço dos movimentos cívicos e de gurus experientes para se lançar enfim candidato à Presidência.

O problema maior (além da escolha dos nomes e do acerto entre os partidos, num vazio de propostas) é saber como chegaremos a 2022. Seguimos sob o (des)governo de um presidente demente, com uma oposição desacreditada e incapacitada, um Congresso imobilizado, fisiológico e comprometido.

Em outros tempos, Collor e Dilma já sofreram impeachment por muito menos. Estão aí as evidências dos crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro, mas a PF e a PGR dóceis e sob controle, além do Legislativo e do Judiciário emparedados (quando não subornados), e sob ameaça de intervenção, formam o ambiente ideal para uma segunda onda do bolsonavírus.

Vamos buscar uma vacina democrática e definitiva para combater os maus políticos, tanto faz se à esquerda, à direita e ao centro, ou relaxar com placebos e tratamentos paliativos, empacados diante de mais uma recorrente violação dos nossos direitos?

E agora? Você vive dentro de uma bolha ideológica, tem algum político e bandido de estimação, tem rabo preso ou pode também manifestar a sua independência, como nós fazemos agora? Qual é, então, a saída? Vamos votar melhor ou o último a sair apaga a luz?