segunda-feira, 30 de novembro de 2020

A esquerda tem um novo líder, que surge com potencial ameaçador à direita conservadora e retrógrada entronizada no poder


Ele ganhou projeção nacional liderando um movimento popular. Hoje todos o conhecem e reconhecem o seu carisma. O que faltava revelar sobre ele era a sua face mais humana, tolerante, o seu jeito de ser. E isso foi acontecendo em sucessivas campanhas e entrevistas.

Torcedor corinthiano, este barbudo de trinta e poucos anos tem fala fácil e convence muita gente. Pai de família, morador na região periférica de São Paulo, despontou como candidato promissor do partido mais à esquerda entre os que surgiram no cenário político nacional, incensado por intelectuais, trabalhadores e dissidentes de outras legendas.

Artistas populares o apóiam abertamente. Caetano, Gil, Chico Buarque. É o sopro de esperança por uma política mais progressista, inclusiva, transgressora. Numa época em que os governistas ainda tentam calar a oposição à força e que todo adversário é tachado de comunista. Surreal.

Até o fato de já ter sido preso pela polícia militar, acusado de incitação à violência por liderar manifestações populares contra um governo reacionário dão a ele uma aura de novo herói da esquerda nacional. Um toque de radicalidade democrática que instiga e mobiliza a população, que aos poucos vai saindo de casa e voltando às ruas.

O Brasil vive mais um período de caos econômico, com inflação crescente, salários derretendo e o desemprego batendo à porta das famílias brasileiras. A democracia precisa renascer após ter sido tão sufocada e desafiada nos últimos anos. E ele surge como novo protagonista.

Passa agora a ser um interlocutor obrigatório para qualquer movimento da oposição. Pode ajudar a aglutinar as forças políticas do campo democrático e a acabar com o monopólio dos velhos partidos, sobretudo ao atrair de forma substancial jovens militantes e simpatizantes, arejando também a imagem rançosa da velha esquerda.

Se você acha que estou falando de Guilherme Boulos, acertou em parte. Mas estará ainda mais correto e sintonizado se perceber que estou me referindo a Lula nos anos de 1980, auge das greves na principal região industrial do país, o ABC paulista. Época do surgimento do PT, nos estertores do governo militar.

É inevitável traçar um paralelo entre Boulos e Lula, entre o período da redemocratização após a ditadura e o necessário enfrentamento que os atores do campo democrático precisam fazer agora contra o desgoverno do meme que virou presidente.

A esquerda, o centro e a direita democrática precisam vencer Bolsonaro. São Paulo já deu um grande passo ao levar ao 2º turno Bruno Covas e Guilherme Boulos. Por todo o Brasil, candidatos bolsonaristas e petistas foram os maiores derrotados, sinalizando que a polarização de 2018 pode ser vencida por uma alternativa aos dois extremos. Amém!